“A manifestação visa denunciar um comportamento que é recorrente, em que as forças de segurança abusam da violência de carater racista sobre as populações negras que vivem em Lisboa e na periferia de Lisboa. Nós somos contra todas as formas de violência, mas pretendemos denunciar uma que é exercida por servidores do Estado”, defendeu um dos membros do Coletivo Consciência Negra, que organizou o protesto.

Para José Pereira, um Estado de Direito não pode permitir que os agentes da autoridade “abusem da lei e da ordem para cometer crimes de violência racista”.

Foi pelas 16:30 que o protesto se iniciou, levando à concentração de cerca de 100 pessoas que gritavam por “racismo nunca mais” e “racismo e fascismo não passarão”.

“Quero frisar que não importa quantos somos, o que importa é ficar registado e passar a ideia de que a população da Jamaica está farta de ser agredida pelos abusos policiais”, disse Vicente, um dos moradores de Vale de Chícharos que se encontrava no movimento.

Foi também Vicente que revelou que, neste protesto, estava presente “uma minoria” de moradores do bairro, o que justificou pelo “horário de trabalho”.

Já o membro do Coletivo Consciência Negra culpabilizou o Estado por esta fraca adesão.

“É uma expressão das desigualdades, da injustiça e da violência que o Estado exerce sobre as pessoas que são mais pobres, que são negras e negros, que são estrangeiros”, frisou.

Apesar dos poucos moradores, várias foram as associações e civis que mostraram solidariedade para com a população de Vale de Chícharos.

“Vim apoiar a manifestação, em solidariedade por uma habitação digna para estas pessoas e para que todos os atos policiais sejam devidamente averiguados. E também reforçar esta ideia de que a polícia é digna, o Estado de Direito existe”, defendeu Andreia Sousa, uma popular que se juntou ao movimento.

Quando questionado sobre o porquê de o protesto decorrer em frente à câmara municipal, que está a ajudar aos realojamentos dos moradores do bairro da Jamaica, José Pereira explicou que “foi uma decisão das pessoas que organizaram, incluindo moradores”.

“Foram eles que decidiram que seria esta a hora e o local indicado, tendo em conta várias circunstâncias", entre as quais a possibilidade que têm de se deslocarem, explicou.

Neste protesto estiveram também presentes vários responsáveis do Bloco de Esquerda, incluindo a deputada Sandra Cunha e o assessor e dirigente da SOS Racismo Mamadou Ba, que defenderam que Portugal tem um problema de “racismo institucional” e mais formação para os agentes policiais.

O protesto acontece na sequência de incidentes entre moradores e a polícia ocorridos no passado domingo em Vale de Chícharos, conhecido como Bairro da Jamaica, no Seixal, e contou com apenas uma minoria de habitantes deste bairro.

A Associação para o Desenvolvimento de Vale de Chícharos demarcou-se do protesto de hoje.

A organização do protesto foi assumida por alguns movimentos e associações, como o Coletivo Consciência Negra, a SOS Racismo, a Plataforma Gueto, a FEMAFRO - Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afro-descendentes em Portugal e a Afrolis – Associação Cultura.

No domingo passado, a polícia foi chamada a Vale de Chícharos após ter sido alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, do qual resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.

Na segunda-feira, decorreu uma manifestação contra a violência policial, convocada nas redes sociais, em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP, de acordo com a polícia.

Em declarações à Lusa, vários moradores afirmaram que “não convocaram” nem participaram nesse protesto.

O Ministério Público e a PSP abriram inquéritos aos incidentes no bairro da Jamaica.

Numa resposta enviada à Lusa, a Câmara do Seixal referiu que o ambiente tem estado “completamente tranquilo” em Vale de Chícharos e que “os esforços do município estão concentrados na resolução dos problemas habitacionais existentes”.

Hoje, numa visita ao bairro, a vereadora da Habitação na Câmara Municipal do Seixal afirmou que os moradores no bairro de Vale de Chícharos (Jamaica) são pessoas pacíficas e trabalhadoras e que o incidente de domingo com a polícia foi um caso pontual.

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