Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra em 1969 e líder da revolta estudantil nesse mesmo ano contra o Estado Novo, falava na sessão solene comemorativa do 43º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, num discurso em que prestou homenagem ao capitão Salgueiro Maia e ao antigo Presidente da República e fundador do PS Mário Soares.
“Para que Abril não seja uma efeméride ritualista é nosso dever relacionarmo-nos com o futuro de modo estratégico, recusando o conformismo, neste tempo ameaçador de incertezas, riscos para a paz, violência, terrorismo, atentados contra direitos fundamentais”, declarou o ex-líder parlamentar socialista na parte mais virada para a análise à conjuntura política do presente.
Alberto Martins defendeu como um dos principais desafios da atualidade a subordinação da economia à política sobretudo ao nível da União Europeia.
“Numa fase de crise europeia, as políticas austeritárias, de estreita disciplina orçamental, provocaram, como entre nós, recessão e degradação social e geraram uma insidiosa situação de incerteza, desesperança e chocantes desigualdades sociais. Ora, a saída da crise económica, social e ecológica exige uma União Europeia mais democrática, mais transparente, subordinando o poder económico ao poder político, e que se oponha ao domínio opaco da especulação financeira sobre os Estados e as instituições. E que conduza um combate sem tréguas à corrupção e à economia subterrânea”, declarou o antigo ministro socialista.
A nível nacional, Alberto Martins apontou como prioridades a procura “de um verdadeiro desenvolvimento sustentável alicerçado pela inovação, pelo conhecimento, pela qualificação, pelo equilíbrio ambiental, na coesão e equidade territoriais”.
Alberto Martins referiu-se nesse contexto ao “combate à pobreza e ao desemprego (à exclusão, designadamente dos imigrantes) à precarização do trabalho e à necessidade de mais igualdade de oportunidades para mulheres e homens”.
“O aprofundamento da qualidade da democracia e do imperioso reforço da credibilidade e transparência do Estado e da administração, dos sistemas de segurança e justiça, em suma, garantindo as condições de exercício de uma cidadania exigente e de uma nova ética de responsabilidade”, disse.
No que respeita ao significado histórico da ‘Revolução dos Cravos’, o líder da revolta estudantil de 1969 contra o Estado Novo defendeu que o 25 de Abril de 1974 “foi, também, o lugar e o tempo do fim da guerra colonial e de um império colonial – e o início da liberdade para os povos dos futuros Estados de Angola, Cabo-Verde, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe e, numa outra curva dramática da história, Timor-Leste”.
“O 25 de Abril é, simultaneamente, resultante e resultado da convergência da luta da resistência do povo português e das lutas libertadoras dos povos colonizados, na sequência de um trágico, e desumano, erro histórico da ditadura que prolongou o sofrimento de uma guerra injusta, responsável pela destruição, mutilação e morte de tantos e tantos homens, e acabou por precipitar o retorno de milhares de portugueses ao país em condições vazias, de sacrifício e desesperança”, vincou Alberto Martins.
O deputado do PS salientou depois que “não há futuro sem memória”, razão pela qual há que lembrar que “o país livre e democrático, a República soberana que hoje é, foi sendo construído pela luta lenta, persistente, diária, difícil, com cadeias, desterros, exílios, torturas, insubmissões”.
“A ditadura fascista assentou numa polícia política que censurou, vigiou e perseguiu pelo medo, que assassinou centenas de portugueses, encurralou e torturou anos a fio, milhares de homens e mulheres. A ditadura teve lugares de sofrimento: Tarrafal, Peniche, Caxias, a guerra em Nambuangongo, os crimes de Wiriamu. Foi um longo caminho, de dias, e dias e décadas, até chegar ao 25 de Abril, o dia que o povo português sonhou e lhe pertence”, acentuou Alberto Martins.
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