A duas semanas de umas eleições presidenciais dadas como certas, o presidente Vladimir Putin prometeu melhores condições de vida para os russos e elogiou amplamente as novas capacidades militares do país — referindo-se aos novos armamentos de alta tecnologia do exército. As afirmações do presidente russo vieram confirmar a existência de armas de grande potência no país.

No discurso anual ao Parlamento, a expectativa era que o presidente apresentasse as prioridades — sobretudo, nas áreas social e económica — para o próximo mandato, o qual poderá levá-lo até 2024.

Depois de prometer adotar medidas de luta contra o cancro, melhorias na rede rodoviária, ou criar creches, Putin enumerou durante quase uma hora (cerca de metade do tempo que esteve a falar ao país) às últimas armas "invencíveis" da Rússia. As palavras de Putin foram acompanhadas por imagens de computação gráfica, infografias e vídeos.

Putin descreveu pelo menos cinco novos sistemas de armamento, sublinhando a forma como cada um deles é capaz de derrotar as defesas norte-americanas, para além de caracterizar quase todas como de potencial nuclear.

Sobre um míssil balístico intercontinental, o presidente russo diz que as empresas de defesa do país já “iniciaram a produção em massa deste novo sistema”. E nalguns dos vídeos é possível ver engenhos a chegar algures perto do Chile, depois de atravessarem a Europa, o Atlântico e as defesas balísticas norte-americanas, darem a volta na Argentina e seguirem até ao sul do Atlântico.

Apresentando estes novos tipos de mísseis de cruzeiro com "capacidade ilimitada", mini-submarinos de propulsão nuclear, ou mesmo uma arma a laser, "sobre a qual ainda é muito cedo para dar detalhes", Vladimir Putin criticou a postura dos ocidentais em relação à Rússia.

"Ninguém queria falar connosco. Ninguém nos queria ouvir. Ouçam-nos agora!", lançou, tendo sido ovacionado de pé pelos parlamentares reunidos num prédio histórico perto do Kremlin.

O presidente russo destacou os avanços feitos, apesar das sanções ocidentais impostas por causa da crise ucraniana e que são voltadas, em especial, para o setor da defesa.

"O que vocês tentaram para incomodar, impedir, atrapalhar a Rússia não conseguiram. Todos os trabalhos de reforço da capacidade ofensiva da Rússia foram e são realizados", frisou Putin. E acrescenta que os esforços da Rússia são uma "resposta" à atividade militar americana, cuja nova postura nuclear foi denunciada por Moscovo como "beligerante" e “anti-russa".

A Rússia "não ameaça ninguém", "não tem nenhum plano para usar esse potencial de maneira ofensiva", garantiu Putin.

O discurso militarista vem com mais força à tona numa altura em que as relações entre Rússia e Ocidente se encontram no nível mais baixo desde o fim da Guerra Fria, tendo como pano de fundo as divergências persistentes sobre a Ucrânia e a Síria, além das acusações de ingerência em diferentes processos eleitorais no exterior — incluindo nos Estados Unidos.

No comando do país há mais de 18 anos, Putin é candidato para um quarto mandato de seis anos nas presidenciais de dia 18 deste mês. A vitória do atual presidente russo deve acontecer com folga, tendo em conta a ausência do principal opositor de Putin, Alexei Navalny.

Apesar das promessas de campanha em 2012, depois de quatro anos como primeiro-ministro, o último mandato de Vladimir Putin foi marcado por uma queda no nível de vida e pelo aumento da pobreza na Rússia. Entre 2014 e 2016, a queda dos preços do petróleo e as sanções ocidentais fizeram os preços disparar no país, pressionando o mercado interno.

Além de ostentar as novas capacidades militares, Putin prometeu melhorar a situação dos russos e fazer cair o nível de pobreza "inaceitável" para metade nos próximos seis anos — duração do mandato, cuja vitória dá como certa.

O presidente russo destacou que o número de pessoas que enfrentam a pobreza no país caiu de 42 milhões, em 2000, para os cerca de 20 milhões atuais. Todavia, se comparado com o último mandato de Putin (2012-2018), marcado por uma recessão económica, esse número aumentou.

Nesse sentido, Putin insistiu na necessidade de melhorar o "bem-estar" da população e de se investir nas infraestruturas e na saúde para evitar que a Rússia mergulhe no "atraso", o que constitui —segundo ele — o "principal inimigo" nacional.

"Os próximos anos serão decisivos para a vida do país", atirou o ainda presidente e candidato, sublinhando a importância dos avanços tecnológicos para que a Rússia, com um "potencial colossal" nessa área, não fique a meio do caminho da "revolução tecnológica".