Esta tarde, o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, defendeu que a semana de quatro dias de trabalho é “um dos projetos mais inovadores em Portugal”.

Para já, 41 empresas estão a experimentar este modelo no nosso país, abrangendo mais de 1.000 trabalhadores, das quais 21 empresas começaram o teste em junho de 2023, com um total de 332 trabalhadores.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que encerrou a cerimónia de apresentação do relatório sobre o projeto-piloto, agradeceu às 41 empresas e aos trabalhadores que se “aventuraram no desconhecido” ao aderirem à iniciativa e considerou que este é um projeto “vencedor” que já está a ser replicado na Bélgica.

Neste momento, sabem-se já alguns resultados.

Redução das horas de trabalho

“Em média, a semana de quatro dias envolveu a redução das horas de trabalho semanais em 13,7% (de 39,3 para 34 horas, reportado pelas empresas)”, pode ler-se no relatório apresentado por Pedro Gomes, professor de economia na Universidade de Londres, e Rita Fontinha, professora de gestão estratégica de recursos humanos na Universidade de Reading.

Porém, os trabalhadores que participaram na experiência reportaram uma redução menor do número de horas semanais efetivamente trabalhadas em 11,3%, de 41,1 horas para 36,5 horas, indica o estudo.

O relatório indica ainda que 85% dos trabalhadores “apenas aceitaria mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias mediante um aumento salarial superior a 20%”.

  • Dia livre

Na maioria das empresas (58,5%), os trabalhadores têm um dia livre por semana, tendo 41,5% das empresas optado por uma quinzena de nove dias, alternando uma semana de quatro dias com uma semana de cinco dias.

Em 20% das empresas, o dia livre é coordenado à sexta-feira, ou seja, “apenas em oito empresas a sexta-feira foi o novo sábado” e as restantes optaram por diferentes formatos, disse Pedro Gomes.

  • Mudanças na organização

Mais de 70% das empresas adotaram mudanças organizacionais, como a redução do número e duração de reuniões, a criação de blocos de trabalho ou a adoção de novo ‘software’, referem os coordenadores do estudo que aponta que 95% das empresas avaliam positivamente o teste.

  • Menos trabalho, menos ansiedade

A semana de quatro dias teve também impacto na saúde mental dos trabalhadores, com o índice de ansiedade a diminuir em 21%, o de fadiga em 23%, o de insónia ou problemas de sono em 19%, o de estados depressivos em 21%, o de tensão em 21% e o de solidão em 14%.

Os níveis de exaustão pelo trabalho reduziram em 19% e a percentagem de trabalhadores que sente ser difícil ou muito difícil a conciliação entre trabalho e família desceu de 46% para 8%.

A maioria (65%) dos trabalhadores diz também que passou mais tempo com a família após o início da redução horária.

  • As dificuldades das empresas

Na apresentação do relatório, Pedro Gomes disse que as maiores dificuldades manifestadas pelas empresas na implementação do projeto foram a definição de métricas de produtividade, a gestão da semana de quatro dias durante os períodos de férias e a dificuldade em alterar a cultura interna para evitar o desperdício de tempo.

Para Pedro Gomes, “a semana de quatro dias, por muito radical que pareça, é uma prática de gestão legítima e pode solucionar problemas reais das empresas”.

*Com Lusa