A qualidade de vida das crianças é um fator que pesa na decisão das famílias de onde viver. Em Portugal, a percentagem de crianças com menos de 18 anos a viver em áreas com alto risco de poluição de pesticidas era de 7,6% em 2019, sendo que 9 países apresentavam uma taxa de 0%, de acordo com um relatório da Unicef de 2022. Em termos de crianças a viver em casas com humidade ou bolor, Portugal encontrava-se no quarto pior lugar, e em 2016 foi o 12º pior país em termos de percentagem de crianças com excesso de peso ou obesidade, segundo o relatório da Unicef de 2020.
Mas nem tudo é mau. Em termos de saúde mental, Portugal destaca-se positivamente, com uma das taxas de suicídio em adolescentes mais baixa. Em termos de segurança, também se destaca entre os países com uma taxa geral de homicídios mais baixa. Ainda assim, globalmente não se encontra entre os melhores países para uma criança crescer.
Japão
A Unicef considerou o Japão o melhor país para uma criança crescer em termos de saúde física em 2020. E, em 2022, o país venceu o segundo lugar no "mundo ao redor da criança". Em termos de segurança, tem uma baixa mortalidade infantil, segurança no trânsito e a taxa geral de homicídios mais baixa de todos os países analisados. A taxa de obesidade infantil também é baixa, tal como os níveis de poluição de ar e de água.
"As crianças vão para a escola sozinhas a partir dos seis anos de idade", explicou Mami McCagg, nativa de Tóquio que agora vive em Londres. "Mesmo no meio de Tóquio, as crianças andam por aí e vão para a escola sozinhas. É completamente normal porque é realmente seguro. Ninguém está preocupado com os seus filhos, porque não precisamos de estar", adiantou a BBC.
Em termos de educação, o país nipónico tem um dos melhores sistemas de educação, ganhando o 12º lugar em 76 países, e providenciando também boas licenças parentais.
Estónia
No estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, a Estónia destaca-se como um dos países em que as crianças estão menos expostas a ar poluído, assim como a poluição sonora e a pesticidas. Acrescenta-se a vantagem de terem acesso a muito espaço verde urbano. O facto de ter a segunda menor taxa de bebés nascidos com baixo peso entre os países ricos é espelho da qualidade do atendimento pré-natal daquele país.
Além disto, a Estónia tem políticas de licenças familiares muito generosas. A licença de maternidade é de 100 dias, a licença de paternidade é de 30 dias. Seguem-se 475 dias de licença parental remunerada, a ser dividida ou usada em part-time, até à criança atingir os três anos. Até 60 desses dias, ambos os pais podem ficar em casa ao mesmo tempo, com remuneração. Até o filho atingir os 14 anos, os dois pais ainda têm direito a 10 dias úteis de licença parental remunerada. Esta licença aplica-se a residentes permanentes e temporários, incluindo estrangeiros.
Em termos da educação, as crianças na Estónia desenvolvem grandes habilidades de matemática, ciências e humanidades, bem como competências digitais. Equipamentos tecnológicos, como tablets inteligentes, são integrados logo desde o jardim de infância. E, de acordo com um relatório recente, as crianças aos cinco anos já parecem ter desenvolvido uma série de competências socio-emocionais surpreendentes.
Espanha
De acordo com o relatório da Unicef de 2020, as crianças em Espanha têm níveis de bem-estar bastante altos. Em termos de bem-estar infantil, Espanha ocupa o terceiro lugar, e o quarto em termos de habilidades académicas e sociais básicas. Encontra-se lado a lado em termos de facilidade para as crianças fazerem amigos (81%), e tem uma das taxas de suicídio adolescente mais baixa entre os países ricos.
Relativamente às licenças parentais, tanto as mães como os pais recebem 16 semanas de licença remuneradas com 100% dos seus salários, incluindo freelancers. Depois deste período, a mãe pode escolher entre uma licença não remunerada por até 3 anos, ou reduzir as suas horas de trabalho.
Os serviços sociais, educacionais e de saúde são, no entanto, mais baixos. A falta de creches é um problema particularmente grande.
Finlândia
Em termos de alfabetização e de competências matemáticas, a Finlândia tem uma pontuação particularmente alta. A taxa de mortalidade infantil é uma das mais baixas do mundo, e o país oferece uma licença parental generosa. Esta licença inclui oito semanas de licença de maternidade remunerada e 14 meses de licença parental remunerada a ser dividida entre os pais. Existe ainda a licença parental adicional, que pode ser usada até a criança atingir os três anos.
Uma das grandes vantagens da Finlândia é a quantidade de espaço verde disponível, mesmo na capital.
Países Baixos
Relativamente ao bem-estar das crianças, os Países Baixos encontram-se entre os melhores países de acordo com a Unicef, sendo nomeadamente os melhores no que diz respeito à saúde mental infantil. Além de parecer não existir uma cultura de ensinar os filhos a ser os melhores, a ser excecionais - o que pode contribuir para menos pressão na infância - dá-se muito ênfase à socialização.
Também aqui há vantagens na licença familiar, oferecendo-se 16 semanas de licença de maternidade totalmente remunerada e obrigatória. Até seis semanas de licença de paternidade remunerada, e uma licença parental não remunerada que pode ser gozada até a criança completar oito anos.
*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pela jornalista Ana Maria Pimentel.
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