Nota do editor no Knoxville News Sentinel: "Desde a publicação desta história, o News Sentinel fez investigação adicional para verificar de forma independente o relato de Schmitt-Matzen, sem sucesso. Ainda que os factos sobre o seu passado se tenham relevado verdadeiros, a sua história de levar brinquedos a crianças com doenças terminais continua por verificar. O News Sentinel não pode estabelecer que o relato de Schmitt-Matzen é falso mas, mais importante, não pode garantir que a reportagem seja verdadeira".
Quem é Schmitt-Matzen? Voltemos ao início. Esta semana, o Knoxville News Sentinel avançou com a história de Eric Schmitt-Matzen, um Pai Natal profissional, cuja barba "é tão espetacular que ganhou o primeiro lugar no concurso nacional de 'barba natural e bigode estilizado' patrocinado pela empresa de produtos estéticos 'Just For Men' [Só Para Homens]".
Eric, engenheiro mecânico de 60 anos, conta ao jornal norte-americano, de forma emocionada, que há algumas semanas recebeu um telefonema de uma enfermeira que lhe disse que uma criança de 5 anos, muito doente, queria conhecer o Pai Natal. Este atendeu o pedido. Chegou, conheceu o menino, consolou-o e ele acabou por morrer nos seus braços.
"Eu chorei durante todo o caminho para casa", conta. "Levou-me uma semana ou duas para conseguir parar de pensar a toda a hora no que aconteceu", acrescenta. "Pensei que poderia quebrar e nunca mais fazer o papel de Pai Natal na vida".
Este relato, difundido na integra através de um vídeo que acompanha o artigo do Knoxville News Sentinel, foi noticiado por diversos meios de comunicação social internacionais [BBC, The Telegraph, CNN, The Huffington Post, The Washington Post, Daily Mail, Mirror, entre outros] e também portugueses. O problema é que, agora, o próprio Knoxville News Sentinel é incapaz de assegurar a veracidade desta história.
Em entrevista ao The Washington Post, Schmitt-Matzen manteve o relato, escusando-se no entanto a fornecer mais detalhes sobre a mesma, supostamente para defender os interesses da família da criança e do pessoal médico do hospital, também não especificado. Mais tarde, o próprio The Washington Post fez um artigo a dar conta da possibilidade de esta notícia ser falsa.
Escreve o jornal que o autor da notícia original, Sam Venable, soube da mesma através de "amigos de amigos". Hospitais perto da casa e do trabalho de Schmitt-Matzen, nos subúrbios de Knoxville, adiantaram que não têm qualquer registo da situação descrita pelo engenheiro mecânico, acrescenta a publicação.
Sam Venable, por sua vez, deu uma entrevista ao USA Today sobre este caso. Aqui, Venable confirma que chegou à história deste Pai Natal através de vários amigos, diz que a entrevista foi muito emocionada e difícil de fazer, que foi apanhado de surpresa com o sucesso da mesma e suporta Eric e o seu relato.
Numa altura em que a pós-verdade [relacionada com “circunstâncias em que os factos objetivos influenciam menos a opinião pública do que os apelos à emoção e às crenças pessoais"] e a propagação de notícias falsas nas redes sociais dominam os debates no campo dos media, este caso - que seria sempre grave - ganha especial relevância.
O Facebook, no centro da polémica sobre as notícias falsas, com os media a questionarem o papel da rede social na disseminação deste tipo de conteúdos durante a campanha eleitoral norte-americana e o impacto disto na formação da opinião pública e posterior resultado eleitoral, está a desenvolver e a testar ferramentas para limitar a propagação deste tipo de conteúdos.
Neste caso, que não é uma estreia, não foram as pessoas a partilhar um artigo falso de um site duvidoso, foram os media que - seja por falta de capacidade, seja porque foram enganados, seja por qualquer outro motivo - falharam em verificar a informação antes de a replicar, colocando em causa a relação de confiança entre os consumidores e os media.
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