Para impedir a propagação da pandemia da covid-19 ao arquipélago, o Governo cabo-verdiano cancelou desde 19 de março as ligações aéreas desde o exterior, permitindo apenas voos de repatriamento de cidadãos estrangeiros ou para o regresso de cabo-verdianos, neste caso obrigados a um período de quarentena.
Ao fim de uma semana de incerteza, sem respostas da Embaixada portuguesa e da TAP, mas com bilhete de regresso a Portugal comprado desde janeiro, Diogo Costa conseguiu no aeroporto a confirmação do regresso a casa.
“Tenho que me apresentar ao trabalho. Tenho contas por pagar, uma casa, tenho família, filhos, tenho tudo lá”, desabafou.
Até embarcar, já depois das 00:00 de hoje, passou os últimos dias a enviar e-mails, a responder a questionários e a tentar contactar a Embaixada de Portugal. “Sem respostas. Telefone ninguém atende, e-mails ninguém responde”, criticou, em declarações à Lusa, pouco antes de entrar para a sala de embarque do Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na Praia.
No local, a Lusa constatou que vários passageiros sem bilhete pagaram entre 750 e 1.300 euros pela viagem de regresso de Portugal neste voo, mas todos os que foram para o aeroporto conseguiram embarcar, contrariamente ao que se passou há poucos dias.
Os dois primeiros voos comerciais de repatriamento organizados pela TAP desde Cabo Verde, ilhas do Sal e de Santiago (Praia), aconteceram na madrugada de quarta-feira, após autorização do Governo cabo-verdiano.
Contudo, no embarque na Praia, dezenas de portugueses que se apresentaram no aeroporto sem bilhete não conseguiram lugar, gerando críticas e indignação no local, como a Lusa constatou.
Maria Carvalho devia ter embarcado em 19 de março de regresso a Lisboa, mas foi apanhada de surpresa com o cancelamento de voos por Cabo Verde. “Ainda me deram bilhete para outro voo, mas depois foi também anulado”, explicou à Lusa.
Acabou por ir para o aeroporto para tentar a sorte: “Disseram-me para vir aqui para o aeroporto para ter o bilhete. Eu quero ir para lá, tenho de trabalhar, tenho lá a minha filha menor”, contou, pouco antes de receber a confirmação que viajava mesmo hoje.
Cabo Verde continua a registar até ao momento cinco casos da covid-19 e um morto.
Três casos foram registados na semana passada na ilha da Boa Vista, dois turistas ingleses e uma turista dos Países Baixos. Um dos turistas ingleses, de 62 anos, acabou por morrer na segunda-feira e os restantes já regressaram aos países de origem.
Na cidade da Praia, ilha de Santiago, estão confirmados dois casos, um casal.
Trata-se do primeiro caso de transmissão local no país. O marido, cabo-verdiano, de 43 anos e residente na Praia, tinha regressado a Cabo Verde em 18 de março, proveniente de França num voo através de Lisboa, tendo ficado em isolamento e segundo o balanço feito hoje “inspira alguns cuidados”.
A mulher, de 41 anos e igualmente residente na Praia, foi posteriormente confirmada com covid-19, aguardando-se o resultado das análises às várias pessoas com que contactou nos últimos dias.
Todas as ligações interilhas estão suspensas no país, por decisão do Governo, para travar a progressão da pandemia no arquipélago, entre outras medidas restritivas.
A pedido do Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, o parlamento autorizou na sexta-feira ao final do dia a declaração de estado de emergência no país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 572 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 26.500.
Dos casos de infeção, pelo menos 124.400 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu para 94 com os casos acumulados a ultrapassarem os 3.400 em 46 países, segundo a mais recente atualização das estatísticas sobre a pandemia
Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
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