"É necessário que as crianças até aos seis anos sejam observadas anualmente pelo dentista e que seja criado um modelo de cheque-dentista que permita realizar todos os tratamentos necessários nos dentes decíduos [temporários]", disse à Lusa o investigador Paulo Melo, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), entidade envolvida no estudo.
Embora este número seja inferior ao registado 2006, altura em que rondava os 49%, existem ainda "grandes necessidades de tratamento", visto que uma percentagem de crianças desta idade e abaixo possuem cárie precoce de infância, "a forma mais grave de manifestação da cárie dentária", que se traduz pela destruição total dos dentes.
O estudo mostra também que 47% das crianças com 12 anos têm cáries dentárias, enquanto nos jovens com 18 anos esse número suba para 67,6%.
Esses valores são igualmente inferiores aos registados em 2006, no "II Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais", em que 56% das crianças com 12 anos e 72% dos jovens com 15 apresentavam a doença.
No estudo agora apresentado participaram 3.710 crianças e jovens com 6, 12 e 18 anos, de Portugal Continental e das regiões autónomas, que foram examinados pelos dentistas envolvidos no projeto e responderam a um questionário para obtenção de dados sociodemográficos e de hábitos de higiene oral e alimentares.
Esta investigação, desenvolvida no âmbito do "III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais", tinha objetivo avaliar a prevalência e as necessidades de tratamentos dentários nas crianças e nos adolescentes portugueses, com o intuito de se delinearem programas estratégicos promotores da saúde oral junto destas populações.
Os especialistas constataram que o número médio de dentes atingido por cárie no grupo de jovens com 12 anos "é baixa" (1,18 dentes por criança), tendo sido já ultrapassado o objetivo para 2020 definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a prevalência da doença nesta idade, em que prevê que esse número esteja abaixo do 1,5.
Quanto aos adolescentes com 18 anos, o seu padrão de saúde oral revela níveis moderados de cárie, abaixo das expectativas dos investigadores.
Para o investigador, estes resultados mostram que a percentagem de crianças com cárie dentária tem vindo a diminuir de "forma muito expressiva", atingindo "níveis muito satisfatórios", particularmente nos indivíduos que têm beneficiado das atividades desenvolvidas no âmbito do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO).
O PNPSO engloba o programa cheque-dentista, aplicado a crianças e a adolescentes a partir de 2009, bem como medidas para promoção da saúde oral e prevenção das doenças orais nas escolas, que incluem a alimentação saudável e a escovagem e um projeto conjunto com as bibliotecas escolares, denominado SOBE (Saúde Oral Bibliotecas Escolares).
"A importância do programa cheque-dentista fica evidente ao constatar que quase dois terços dos dentes com cárie se encontram tratados, contrariamente ao que se verificava nos estudos nacionais de 2000 e 2006, realizados nas crianças e jovens de 6, 12 e 15 anos, e publicados pela Direção-Geral da Saúde (DGS)", referiu Paulo Melo.
O estudo, designado "Caries prevalence and treatment needs in young people in Portugal: the third national study", é também assinado pelos investigadores Rui Calado, Paulo Nogueira e Cristina Sousa Ferreira, da Direção Geral da Saúde, e foi publicado na revista "Community Dental Helth".
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