O diagnóstico, a propósito do Dia Internacional da Biodiversidade, que se assinala no sábado, é do ativista Paulo Lucas, dirigente da associação Zero, que em declarações à agência Lusa alertou que a flora portuguesa está numa “situação gravíssima”, com “dezenas e dezenas de espécies com estatuto de proteção”, mas que estão fora das áreas classificadas, como as áreas protegidas e as de Rede Natura.
Na fauna aponta a situação problemática dos peixes de água doce, “fortemente ameaçados” pela falta de água que avança o ritmo das alterações climáticas, “destruição de margens e introdução de espécies exóticas, que proliferam muito mais e normalmente são grandes predadores, como os achigãs e peixe-gato”.
As aves também estão “numa situação muito complicada, sobretudo as aves estepárias, que dependem de um modelo de agricultura “cerealífera extensiva, com rotação de pousio e alguma pastagem.
“Nos últimos dois anos, os números indicam que essas estão a ter problemas gravíssimos que a política agrícola não consegue resolver”, referiu o dirigente da Zero.
No Índice do Planeta Vivo publicado no ano passado pela organização ambiental World Wildlife Fund (WWF), assinalava-se que entre 1970 e 2016 houve uma diminuição de 68% nas populações de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes, com base em dados sobre 20.811 populações de 4.392 espécies.
A WWF notava ainda que a biodiversidade em meios de água doce está a decair a um ritmo muito mais rápido do que nos oceanos ou florestas. Desde 1700, o planeta terá perdido quase 90% das suas áreas húmidas, pela forma como a ação humana alterou o curso de milhões de quilómetros de rios e cursos de água.
Em 3.741 populações de água doce sujeitas a monitorização (que incluem 944 espécies de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes), registou-se desde 1970 uma queda de 84%, sobretudo nas regiões da América Latina e Caraíbas.
Quanto às plantas, a WWF indicava o ano passado que estão com um risco de expansão comparável à dos mamíferos e o dobro do das aves. A organização estimava que uma em cada cinco espécies estava ameaçada de extinção.
Este ano, o lema do dia internacional, promovido pela Convenção das Nações Unidas para a Biodiversidade é “Somos parte da solução”.
Paulo Lucas aponta que há “um conhecimento insuficiente sobre os valores naturais” em Portugal e que se avançou para criação de áreas protegidas e zonas de Rede Natura 2000 sem haver um cadastro de referência das espécies e do seu estado de conservação.
“Se não soubermos onde estão as coisas e o que está em perigo, não vale a pena termos grandes políticas de conservação. Preferimos delimitar sítios de Rede Natura, por exemplo, de forma muito abrangente, mas muitos hectares, no meio desses sítios, não têm nada”, referiu.
O ambientalista queixa-se da falta de atenção da tutela e das autarquias à defesa da biodiversidade.
“O que lhes interessa são passadiços, festivais, percursos pedestres que ‘valorizem’, entre aspas, mas estas coisas são motores de destruição, levam as pessoas para sítios onde não deviam levar”, critica, indicando que esse tipo de iniciativas gera pressão sobre os ecossistemas.
Apesar de nas últimas décadas a educação ter sensibilizado para as ameaças à biodiversidade, considera que há “um problema de literacia”.
“As pessoas não conhecem a flora e muito menos conseguem distinguir os animais. As séries que passam na televisão são sobre elefantes e zebras, mas não há nenhuma série sobre a nossa fauna. Era bastante interessante termos esta informação. Não basta dizer às pessoas para irem para a natureza se elas não souberem interpretar o que vêm. Não chega”, argumenta.
Paulo Lucas destaca como positivas as iniciativas como a reintrodução do lince-ibérico e os esforços para sua conservação, mas aponta outras que precisam de mais intervenção, como o lobo-ibérico.
“A população não cresce há muitos anos, mantém-se nos 300 indivíduos e é precisa uma política de expansão. Temos um abandono do meio rural e é preciso devolvê-lo à natureza, estamos a artificializar a paisagem e é preciso compensação em outros locais, era preciso expandir o lobo para sul do Douro, mas desde que tenha presas naturais, como o veado e o javali”, referiu.
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