"Todas as projeções em relação ao futuro têm incerteza, mas tanto quanto sabemos o conhecimento científico indica que vai haver uma redução dos recursos hídricos, com muitas implicações ao nível agrícola e até da saúde das pessoas", disse o especialista numa conferência do X Congresso de Gestão e Planeamento da Água, organizada pela Fundação Nova Cultura da Água, que termina hoje em Coimbra.
Citando o projeto Impressions, financiado pela União Europeia e liderado pela Universidade de Oxford, Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, salientou que vai ser difícil manter a qualidade da água do rio Tejo ao longo do seu percurso.
"A questão das águas não tratadas em Espanha e no nosso país e o transvase de Segura é algo que vai prejudicar muito, já prejudica, a qualidade das águas ao longo do Tejo", referiu o académico.
Segundo Filipe Duarte Santos, que citou um outro estudo que está a ser concluído para a Comunidade Intermunicipal do Algarve, a escassez de água naquela região, que apresenta já uma grande dependência dos aquíferos (67%), tem uma tendência de agravamento, "que vai ter implicações sobre a agricultura e o turismo".
"Uma das medidas que pensamos ser de adaptação é, com todo o cuidado nessa legislação, por em prática a reutilização das águas residuais urbanas para regar, por exemplo, os campos de golfe, jardins, lavar as ruas e utilização na agricultura, como se faz em alguns países em escala bastante grande", sublinhou.
De acordo com o investigador da Universidade de Lisboa, 15% da água que é utilizada em Espanha na agricultura de regadio é água urbanas tratada.
Na mesma conferência, o investigador espanhol Jorge Olcina, da Universidade de Alicante, traçou um cenário negro das inundações provocadas por fenómenos extremos associados às alterações climáticas e denunciou que 82% dos municípios da região de Valência não dispõem de planos de risco.
O académico considerou que o ordenamento do território é fundamental para a redução do risco de inundações e apontou, como fator positivo, os planos especiais de seca que estão a ser preparados em Espanha.
O vereador da Câmara de Lisboa José Sá Fernandes, também interveniente na conferência, anunciou que até 2020 o município vai aumentar as áreas verdes para 300 hectares e investir 100 milhões de euros na construção de grandes coletores de drenagem de águas na cidade, que estarão concluídos em 2021.
Entre as medidas que estão a ser executadas para minimizar impactos das alterações climáticas, o vereador salientou o investimento em 15 locais de drenagem natural de águas, a plantação de 5.200 árvores e o aumento da poupança de água potável em 25% até 2020 e o aumento para 30% de cobertura da rede de água tratada por Estação de Tratamento de Águas (ETAR).
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