Em resposta a perguntas dos jornalistas, em Dublin, Marcelo Rebelo de Sousa realçou, por outro lado, que a Irlanda apoia a candidatura de Portugal a um lugar de membro não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2027-2028 e qualificou as relações político-diplomáticas entre os dois países como “muito próximas”.

Segundo o Presidente da República, “vem no contexto certo” a sua visita de Estado à Irlanda — onde há 23 anos não se deslocava oficialmente um Presidente português — “por várias razões”, relacionadas com a situação de guerra na Ucrânia e os seus efeitos, com as negociações pós-‘Brexit’ e com as relações bilaterais.

“As relações bilaterais com a Irlanda deram um pulo monumental. Estão a dar um salto em termos económicos. Já tinha acontecido assim há dois anos e está a acontecer neste ano, em termos de comércio, em termos de aproximação em aspetos fundamentais”, disse.

O chefe de Estado referiu que “há um crescimento de mais de 100% do turismo irlandês neste ano em Portugal” e que “há uma comunidade jovem” portuguesa a chegar a Irlanda.

“Há também relações bilaterais muito próximas. Nós temos apoiado candidaturas da Irlanda ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Irlanda apoia a nossa candidatura também ao mesmo órgão. Apoiou António Guterres [para secretário-geral das Nações Unidas] uma vez, duas vezes. Temos trabalhado em conjunto”, acrescentou.

No seu entender, ”havia aqui um vazio de visitas de Estado que foi preenchido”.

Questionado se Portugal pode aprender lições com a Irlanda do ponto de vista económico, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que “a Irlanda tem o investimento americano”, o que constitui “uma diferença” em relação a Portugal: “É uma ligação muito grande, tradicional, à economia americana e, portanto, isso facilitou uma recuperação muito imediata”.

O Presidente da República identificou como preocupação comum aos dois países ”acompanhar o crescimento económico com a coesão” para evitar que “uma parte da população fique um bocadinho para trás” e defendeu que “é fundamental aquilo que nos fundos europeus se destina à coesão”.

Portugal e a Irlanda enfrentam ambos problemas com “a habitação, o custo da habitação, o problema dos mais jovens em relação à entrada no mercado do emprego e as condições de entrada no mercado do emprego”, bem como “problemas de pressão sobre a educação, as estruturas sociais em geral”, apontou.

Hoje de manhã, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido com honras militares na residência oficial do Presidente da Irlanda, onde cumpriu a tradição de simbolicamente plantar uma árvore nos jardins — um carvalho — e fazer soar o “sino da paz”.

No livro de honra da residência oficial, o chefe de Estado português escreveu que Portugal e a Irlanda são “dois grandes países” com uma “longa amizade” e agradeceu “a receção calorosa” do Presidente Michael Higgins, declarando que nunca esquecerá esta visita.

Cerca de 30 alunos da escola primária Maighdine Mhuire, do condado de Claire, a mais de 200 quilómetros de Dublin, assistiram à receção do Presidente português pelo seu homólogo irlandês, que o apresentou assim às crianças: “Este é o professor Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente de Portugal, num dia de chuva”.

Niall, de 9 anos, e Tommy, de 10, aproveitaram o momento para perguntar ao Presidente português se conhecia Cristiano Ronaldo. “É meu amigo”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.

Espantados, os rapazes pediram-lhe para enviar cumprimentos da parte deles ao jogador e para lhe dizer que é melhor do que Messi.

“Eu sempre pensei isso, mas alguns argentinos não concordam. É pena é que aos poucos esteja a ficar velho”, comentou Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois, o chefe de Estado colocou uma coroa de flores no Garden of Remembrance, jardim dedicado à memória dos que deram a vida pela causa da liberdade irlandesa, e almoçou no ‘pub’ Davy Byrnes, que era visitado pelo escritor irlandês James Joyce e é mencionado na sua obra “Ulisses”, publicado há cem anos.