Encomendado pela Igreja Católica, este estudo abrangente deveria ter sido apresentado a 25 de setembro em Fulda (estado de Hesse) durante a Conferência Episcopal Alemã pelo seu presidente, o cardeal Reinhard Marx.

Pelo menos 3.677 crianças, a maioria meninos com menos de 13 anos, foram vítimas de abuso sexual por 1.670 clérigos, de acordo com este relatório, que foi consultado pela revista "Der Spiegel" e pelo jornal "Die Zeit".

Durante três anos e meio, um grupo de investigadores das Universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen examinou 38.000 dossiers e manuscritos de 27 dioceses alemãs transmitidos pela Igreja. Eles não tiveram, porém, acesso direto aos arquivos.

De acordo com o relatório, durante décadas a Igreja "destruiu ou manipulou" inúmeros documentos ligados aos suspeitos e "minimizou" a seriedade e a extensão dos acontecimentos. O mesmo documento indica que os padres acusados eram frequentemente transferidos sem que se avisasse os fiéis sobre o possível perigo destes párocos para as crianças nas suas novas dioceses.

No total, apenas 38% dos suspeitos enfrentou julgamentos como vem previsto na lei canónica, mas as sanções foram mínimas, mesmo inexistentes, dizem os autores do relatório, quando um em cada seis casos envolveu violação. A maior parte das vítimas foram rapazes e mais de metade tinham 13 anos ou menos.

Durante vários anos, a Igreja Católica na Alemanha, como um pouco por todo o mundo, foi abalada pelas revelações do abuso sexual. Em 2017, um relatório revelou que pelo menos 547 crianças do coro católico de Regensburg (no Alto Palatinado, Baviera) foram vítimas de violência sexual entre 1945 e 1992.

"Vergonha"

A Igreja católica alemã afirmou sentir "vergonha", depois da revelação do conteúdo do relatório dos especialistas.

"Estamos cientes da extensão dos abusos sexuais que foi apontada pelos resultados do estudo. Estamos chocados e envergonhados", declarou o bispo Stephan Ackerman, num comunicado em nome da Conferência dos Bispos da Alemanha. Segundo o clérigo, este relatório tem como objetivo trazer "mais clareza e transparência sobre esta página obscura da história da Igreja".

Ackerman denunciou o facto de que este relatório, encomendado pela Igreja há quatro anos, tenha sido revelado à imprensa antes da sua apresentação na conferência episcopal marcada para 25 de setembro. O bispo ressalvou ainda que os membros desta assembleia "não foram informados sobre a totalidade do estudo".

O dignitário também assegurou que a revelação na imprensa é "um duro golpe para as vítimas de abusos sexuais", de modo que um número de telefone de apoio foi acionado.

Apesar de não ter feito uma reação oficial a este caso, o Papa Francisco decidiu hoje convocar os presidentes das Conferências Episcopais da Igreja Católica para uma cimeira, a realizar de 21 a 24 de fevereiro próximo, sobre o tema "proteção de crianças".