A moção de repúdio, que consta da agenda da reunião da autarquia a realizar na segunda-feira, foi divulgada pelos dois vereadores eleitos pelo PSD na passada quinta-feira, na rede social Facebook.

No texto, Carlos Tenreiro e Miguel Babo (que perderam a confiança política das estruturas locais sociais-democratas e têm vindo a protagonizar posições divergentes para com o único vereador reconhecido pelo PSD no executivo, o líder concelhio Ricardo Silva) contestam o teor das declarações de Matos Fernandes, em 23 de dezembro, “a propósito da ocorrência das recentes cheias na região Centro e das populações que foram afetadas”.

“Vamos ter de nos adaptar aos recursos que temos. Aldeias têm de saber que estão numa zona de risco. Paulatinamente, as aldeias vão ter de ir pensando em mudar de sítio porque não esperamos que esta capacidade que temos possa vir a crescer”, afirmou na altura o ministro do Ambiente, citado em vários órgãos de comunicação.

“A declaração, ao ser proferida por um responsável máximo da governação do país, demonstra uma total irresponsabilidade, revelando-se infeliz, inoportuna, despótica e de tom alarmista, não só desnecessário como totalmente desajustado”, acusam os autores da moção.

Carlos Tenreiro e Miguel Babo argumentam que Matos Fernandes demonstrou “uma total ignorância sobre tudo o que se refere à realidade e história das populações do Baixo Mondego”, que “ao longo de séculos, geração após geração, sempre souberam conviver e lidar com a questão das cheias”.

Os vereadores acrescentam, entre outros considerandos, que o “total despropósito” das palavras do titular da pasta do Ambiente “promoveu um sentimento acrescido de insegurança no seio das populações atingidas pelas cheias”.

“De um governante, e acima de tudo, de um ministro do Governo central, em momentos como aqueles que se viveram nos últimos dias com as cheias do Mondego esperam-se palavras de apoio e de conforto”, adiantam Carlos Tenreiro e Miguel Babo.

Os vereadores frisam, por outro lado, que as declarações do ministro levam “irremediavelmente” a outras preocupações, relacionadas com a Figueira da Foz, nomeadamente à “situação grave de erosão costeira” a sul do Mondego, “com risco de submersão das localidades ali existentes e que não é causada pelas alterações climáticas, mas sim pela catastrófica retenção das areias” na praia adjacente ao molhe norte do porto comercial.

“Nada nos espanta que dentro da lista negra da política de deslocalização de aldeias, se encontrem, também, pelos mesmos motivos, as populações da Cova, da Gala, da Costa de Lavos ou da Leirosa”, enfatizam.

Ouvido pela Lusa sobre a moção, que será discutida e votada na manhã de segunda-feira, o presidente da autarquia, Carlos Monteiro (PS), antecipou o chumbo da proposta, com os votos contra da maioria socialista no executivo municipal.

O autarca justificou esta posição pública também com a divulgação pública da moção antes da reunião e contestou os termos da proposta: “Primeiro, não me parece curial a Câmara Municipal da Figueira da Foz estar a discutir um assunto que diz diretamente respeito ao concelho de Montemor-o-Velho”.

Por outro lado, Carlos Monteiro frisou que aquilo que Matos Fernandes disse, “num contexto generalista, faz sentido”.

“Aliás nós, no nosso Plano Diretor Municipal, temos um recuo estratégico programado. Temos zonas que sabemos ser de risco, onde não é possível construir, não é possível reconstruir, porque, infelizmente as alterações climáticas são uma realidade. E temos de começar a antecipar alguns dos problemas que, de certeza, por muito que o Homem consiga controlar a Natureza, não consegue resolver”, argumentou.

Carlos Monteiro frisou ainda que o ministro do Ambiente “está à frente, na Europa, nas preocupações que tem com as alterações climáticas” e nas medidas que Portugal possui para as combater e que, nesse sentido, a posição de Matos Fernandes “não deve ser desvalorizada”.

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