Luís Montenegro chegou à residência oficial do primeiro-ministro pelas 10:00, saiu às 13:42. Uma reunião longa que acabou sem declarações por parte do atual líder do PSD.
Minutos depois, em declarações à imprensa, António Costa deu conta de uma conversa "longa" e "agradável", onde teve a oportunidade de "abordar temas muito diversos e, como é dever do governo, transmitir informações o mais pormenorizadas quanto possível" sobre matérias de política interna, de defesa, de questões de matéria europeia e sobre a situação económica do país.
O encontro visou ainda definir "metodologias de contacto e de trabalho" entre o governo e o PSD.
O tema do novo aeroporto de Lisboa foi abordado, mas sem acordo à vista. "Cada um trocou informações que tinha e ficámos de voltar falar brevemente", disse Costa, adiantando que Montenegro se encontra neste momento a auscultar o próprio partido sobre esta matéria.
Uma "conversa agradável" e, assegura Costa, "a primeira de muitas", resumiu.
Questionado sobre o tempo que demorou esta conversa, Costa respondeu justificou: "entendo que é meu dever e é de utilidade para o país que o líder da oposição tenha uma informação tão precisa quanto possível sobre algumas questões fundamentais da governação e, portanto, essa conversa foi necessariamente longa. Uma conversa agradável e seguramente produtiva", reiterou.
Ainda assim, e perante a insistência dos jornalistas sobre eventuais consensos em torno do novo aeroporto de Lisboa, Costa disse que "o que é normal em democracia é que os partidos construam alternativas que apresentem aos portugueses — e acho que essa é uma das grandes riquezas da democracia. E uma das grandes forças da democracia em Portugal é termos sido capazes, até agora, de ter sempre sido possível aos portugueses chegarem às eleições e decidirem se querem seguir este ou aquele caminho. E compete naturalmente aos dois principais partidos construírem os melhores caminhos para apresentarem aos portugueses", começou por dizer.
Essa escolha, continuou, "foi feita recentemente, foi feita de forma clara e inequívoca e, portanto, vamos ter vários anos de estabilidade política, o que é bom e dá tempo também à oposição de construir a sua alternativa, e de em outubro de 2026 os portugueses escolherem se querem continuar este caminho ou seguir outro caminho".
Para além das naturais alternativas, reconheceu, "há ainda pontos de divergência que são naturais e saudáveis em democracia, que é o que justifica a existência do pluralismo partidário. Depois, há matérias sobre as quais é importante que haja acordos, como por exemplo tudo o que tem a ver com relações externas (...). Eu tenho insistido que relativamente às grandes infraestruturas e obras públicas é muito importante que haja um grande consenso nacional (...)."
Neste campo, "há uma matéria que há várias décadas o país tem de decidir, e sobre a qual a crescente procura, com viagens com destino a Portugal, torna crítico que não se adiem decisões. Não sei se vai haver acordo [em relação ao novo aeroporto], mas é importante que haja. Hoje ouve uma primeira conversa, não estivemos a negociar, mas a transmitir informações (...) e brevemente voltaremos a falar", concluiu.
O primeiro-ministro e o presidente do PSD estiveram reunidos a sós, hoje, em São Bento, durante mais de três horas e meia, no primeiro encontro entre ambos.
Com o anterior líder do PSD, Rui Rio, a primeira reunião em São Bento com o primeiro-ministro aconteceu no dia 20 de fevereiro de 2018. Foi também considerada longa, cerca de duas horas e meia, mas bem mais curta do que esta de hoje com Luís Montenegro.
No final do encontro, em que António Costa e Rui Rio também estiveram a sós, o ex-líder social-democrata admitiu que havia “uma nova fase” nas relações com o PS.
Rio anunciou então que nesse mesmo dia iria indicar os interlocutores para o diálogo com o Governo nas áreas da descentralização e do quadro comunitário Portugal 2030. Governo e PSD chegaram a um acordo de princípio sobre esses dois temas - descentralização e fundos comunitários - um mês depois dessa primeira reunião entre Rui Rio e António Costa, em São Bento.
No final de maio, Luís Montenegro foi eleito líder do PSD com mais de 72% dos votos, sucedendo no cargo a Rui Rio, e entrou formalmente em funções no início deste mês.
Logo no início de junho, numa conferência promovida pela Câmara do Comércio Luso Espanhola, em Lisboa, o primeiro-ministro afirmou que a nova solução aeroportuária para a região de Lisboa terá de ser decidida em consenso com o PSD, justificando que se trata de um processo estruturante para várias legislaturas e que condicionará a ação de vários governos.
No passado dia 29, enquanto António Costa estava a participar na cimeira da NATO em Madrid, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, fez publicar um despacho com uma solução aeroportuária – Montijo mais Alcochete – e afirmou que prescindia de um acordo com o partido de Luís Montenegro sobre essa matéria.
Porém, no dia seguinte, António Costa determinou que o ministro das Infraestruturas revogasse esse despacho e reiterou que a solução referente ao novo aeroporto da região de Lisboa terá de ser tomada com base num acordo com o PSD.
Na quarta-feira, em entrevista à CNN, o líder do PSD afirmou que iria transmitir em primeira mão ao primeiro-ministro a posição dos sociais-democratas sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa.
Deixou também avisos ao executivo socialista sobre esse processo.
“Uma coisa é dialogar com o maior partido da oposição, outra é deixar de decidir. Quem tem de decidir é o Governo e o primeiro-ministro. Era muito interessante discutir a opinião do PSD, mas temos de discutir a opinião do Governo”, declarou nessa entrevista.
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