Em declarações à Lusa, o vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Vieira do Minho, concelho onde nasce o Ave, mais concretamente na serra da Cabreira, apontou a Barragem do Ermal - construída na década de 1930 e alimentada por aquele rio - como "um dos atrativos" turísticos do concelho.

"Poluído é algo que o rio Ave aqui não está. Pelo contrário. Temos atividades lúdicas organizadas pela própria autarquia, temos o único telesqui da região Norte, canoagem e infraestruturas de apoio à albufeira. Pela Cabreira temos uma série de sítios quase não tocados, com pouca pressão habitacional ou industrial. Aqui o rio Ave não tem problemas", referiu Paulo Miranda.

No entanto, ao longo dos cerca de 80 quilómetros do Ave nem tudo é ‘cor-de-rosa’: "Há alturas em que é roxo, outras azul, outras esbranquiçado", admitiu à Lusa fonte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Segundo a mesma fonte, "hoje o rio Ave, que se pensou irrecuperável, é um exemplo do trabalho de despoluição", mas "há ainda muito por fazer".

"Cresci a olhar para este rio", disse à Lusa Luís Pereira, 73 anos, habitante da freguesia de Ponte, em Guimarães, também no distrito de Braga.

"Aprendi aqui a nadar quando era miúdo, mas quando casei já não se aguentava com o cheiro da água, era um dos mais poluídos do país. Até havia apostas sobre a cor do rio", lamentou.

Por alguns dos concelhos por onde o Ave passa (Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde), uma das atividades dominantes foi, até finais da década de 80 do século passado, a indústria têxtil.

"Eram diárias as descargas das fábricas diretamente para o rio. Matou peixes, acabou com as praias, as brincadeiras, acabou com o rio", referiu o ex-operário, precisamente de uma fábrica têxtil, que faliu em 1988.

A APA confirmou a realidade descrita: "O ano de viragem foi o de 1987, ano em que se começou a planear de forma séria e estruturada a despoluição do rio Ave e a verdade é que hoje vê-se a consolidação destes anos todos de trabalho, é um exemplo de políticas de despoluição", explicou a fonte da agência.

O investimento, referiu, "é impossível contabilizar", já que o trabalho “foi feito por autarquias, empresas, com recurso a fundos nacionais e comunitários".

Mais do que planos institucionais "ou até mesmo mais do que leis", o rio Ave tem nos habitantes das suas margens os seus maiores defensores e vigias.

"Hoje as populações estão mais vigilantes, sabem a quem e onde se podem e devem queixar, fazer denúncias. E sempre que há descargas as autoridades são alertadas, muitas vezes pelos habitantes ribeirinhos", reconheceu o técnico da APA.

A mudança de mentalidades ocorreu igualmente ao nível empresarial: "Nenhuma empresa quer hoje em dia ser associada a uma descarga ou à poluição do rio. Fizeram-se investimentos, há cuidados e há a lei que se quer respeitar", salientou.

Ainda assim, reconhece-se que o rio Ave ainda tem "realidades diferentes".

Segundo as fontes que falaram à Lusa, a zona de ligação entre a Póvoa de Lanhoso e Guimarães é uma das áreas referenciadas como muito problemáticas pelos habitantes das imediações.

De vez em quando, indicaram, as descargas de pedreiras deixam o rio esbranquiçado, havendo ainda tonalidades coloridas noutras situações.