"A poluição está presente em todos os rios europeus que foram examinados", afirma Jean-François Ghiglione, diretor da investigação em ecotoxicologia microbiana marinha no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), que em 2019 coordenou estudos sobre nove rios em todo o continente.

A operação envolveu 40 químicos, biólogos e físicos de 19 laboratórios de investigação, além de estudantes de doutoramento e investigadores pos-doc.

As amostras foram recolhidas e analisadas na foz dos rios, nomeadamente no Elba, Ebro, Garonne, Loire, Rhone, Reno, Sena, Tâmisa e Tibre. Depois disso, os investigadores subiram os rios até chegar à primeira grande cidade situada às margens de cada um.

"Os microplásticos são menores que um grão de arroz", explicou Alexandra Ter Halle, química do CNRS em Toulouse, que participou da análise. As partículas têm menos de cinco milímetros de tamanho e as menores são invisíveis a olho nu.

Entre estas partículas estão fibras têxteis sintéticas provenientes da lavagem de roupas e microplásticos libertados pelos pneus dos carros ou no momento de desenroscar tampas de plástico das garrafas.

Também estão incluídos grânulos plásticos virgens, matéria-prima utilizada para fabricar produtos de plástico.

Onde estão os rios mais poluídos do mundo?

O nível "alarmante" de poluição observado foi, em média, de "três microplásticos por metro cúbico de água" nos nove rios examinados, segundo os cientistas.

O resultado está longe dos 40 microplásticos por metro cúbico registados nos 10 rios mais poluídos do mundo (Rio Amarelo, Yangtze, Mekong, Ganges, Nilo, Níger, Indo, Amur, Rio das Pérolas e Rio Hai), que atravessam países onde se fabrica a maior parte do plástico no planeta ou onde se processam mais resíduos.

Mas o resultado não leva em consideração o volume de água que flui. "Em Valence, no (rio francês) Rhone, há um fluxo de 1.000 metros cúbicos por segundo, o que significa que há 3.000 partículas de plástico a cada segundo", disse Ghiglione.

O Sena, em Paris, contém quase 900 por segundo. Os investigadores ficaram "surpreendidos" ao descobrir, graças a avanços analíticos alcançados durante o estudo, que "a massa de microplásticos invisíveis a olho nu é mais significativa que a dos visíveis", disse Ghiglione.

Além disso, que "os microplásticos grandes flutuam e são recolhidos na superfície, enquanto os invisíveis são distribuídos através da coluna de água e são ingeridos por muitos animais e organismos".

No Loire, foi identificada bactéria no microplástico capaz de infetar humanos

Um dos estudos identificou uma bactéria num microplástico do Loire, capaz de provocar infecções em humanos.

Outro resultado inesperado foi que 25% dos microplásticos descobertos nos rios não procedem de resíduos, e sim de grânulos plásticos industriais.

Estes grânulos também podem ser encontrados espalhados nas praias após acidentes marítimos. A descoberta foi possível com a ajuda do "O plástico sob a lupa", um programa científico com participação de quase 15.000 estudantes do Ensino Médio na França, que recolhem amostras das margens dos rios todos os anos.

Os cientistas optaram por não elaborar uma classificação dos rios europeus mais poluídos, já que os dados foram globalmente "equivalentes" e os dados ainda são insuficientes, segundo Ghiglione.

O impacto das cidades sobre os níveis de microplásticos também é pouco claro. "Não demonstramos um vínculo direto entre a presença de microplásticos e a proximidade de uma grande cidade; os resultados rio acima e rio abaixo de uma cidade não são muito diferentes", disse Ghiglione.

"O que vemos é que a contaminação é difusa e estabelecida. E procede de todos os lugares nos rios", acrescentou.

"A coligação científica internacional da qual fazemos parte (dentro das negociações internacionais da ONU para reduzir a contaminação de plástico) exige uma redução significativa na produção de plástico primário, porque sabemos que a produção de plástico está diretamente ligada à poluição", concluiu.