O currículo de Rio Ferdinand, um dos mais admirados futebolistas ingleses, fala por si. Vestiu a camisola da seleção inglesa em três campeonatos do mundo (1998, 2002 e 2006) e fez mais de 400 jogos pelo Manchester United, onde foi ao longo de mais de uma década o mítico nº5. Pelo Manchester, teve, por seis vezes, a alegria de vencer a Premier League inglesa, mas a lista não se ficou por aí: levantou a taça da Champions League e a do Mundial de Clubes em 2008, entre várias outras. Em 2013-2014, jogou o último campeonato pelo Manchester United, mas ainda faria mais um ano na Premier League, o último, na época seguinte ao serviço do Queens Park Rangers. Em 2015, abandonou os relvados, mas a despedida do futebol esteve longe de ser a sua maior tristeza desse ano.

2015 foi o ano em que Rio Ferdinand perdeu a mulher, Rebecca, que morreu de cancro aos 34 anos. Ferdinand ficou em casa, com três filhos pequenos (atualmente com 10, 8 e 5 anos), e sem saber como lidar com a perda e com o papel de pai e de mãe que teria de fazer daí para a frente. O futebolista que encantou tantos adeptos ao longo dos anos viu-se então a braços com uma depressão, com problemas com o consumo de álcool e com dificuldades diárias para conseguir que os filhos regressassem a uma vida normal.

“Eu não sabia como falar com os meus filhos. Não sabia em que botões tocar”, contou Rio Ferdinand em entrevista à BBC Radio 5, horas antes da estreia do documentário. “Começava conversas e tentava saber como se sentiam e eles apenas me mandavam calar, iam-se embora e a conversa acabava ali”.

Um jarro de memórias acabou por significar um novo princípio para Ferdinand e para os três filhos. É literalmente um jarro onde as crianças colocam memórias felizes sobre a mãe e que dá oportunidade aos três para poder falar do assunto. "Foi como se nos tivesse libertado e foi um momento lindo vê-los a falar felizes e a sentirem-se bem com a mãe deles em vez de ser um momento triste e negativo". "Transformou a escuridão em luz", rematou.

O documentário da BBC One mostra a jornada interior que Rio Ferdinand tem vindo a percorrer, desde os momentos mais negros em que nem conseguia falar da dor que sentia, até aos primeiros passos para reconstruir a sua vida e a dos seus filhos. “Acho que não estive de luto como devia de ter estado. Não me dei o tempo que era necessário para me sentar e deixar tudo sair, passar por tudo”, contou.

São 60 minutos sobre luto e dor, mas também sobre recuperação, protagonizados pelo futebolista que revela ter percebido que a melhor maneira de ajudar os filhos a seguirem com a vida em frente era, primeiro, reconstruir a sua própria vida. Ferdinand procurou ajuda num grupo de jovens viúvos, homens com menos de 50 anos, e a história é também sobre as pessoas que se encontram em situação idêntica e o que fizeram para poder seguir em frente. “Ao princípio, eu apenas pensava como é que alguma vez vou voltar a ser feliz?”, relata no documentário.

Na entrevista à BBC 5, Ferdinand não deixou de apontar o dedo a alguma imprensa que publicou recentemente fotos dele com uma estrela de um reality show inglês. “Foi uma desilusão … proteger os meus filhos é sempre o mais importante para mim e é por isso que tenho receio do que sai na imprensa”. Mas, afirma, o documentário fez-lhe ver que não há uma “altura certa” para ter outra relação.