Um turismo que por definição não é de massas porque aquilo que promete tranquilidade, cenários naturais idílicos e, para quem queira, a possibilidade de de ficar longe de tudo e de todos. O Alto Minho não é só isso - porque também é festa, aventura e descoberta de roteiros vínicos - mas neste ano em particular são os primeiros atributos que saltam à vista e não custa perceber porquê. Com Portugal e o mundo em estado de alerta com um vírus cuja prevenção recomenda distanciamento social, esta região de Portugal reune condições ideais para que isso possa ser feito sem qualquer sacrifício.
De visita a Ponte da barca, onde experimentou algumas das propostas de deporto de natureza da região, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques diz-nos que não tem dúvidas que o Alto Minho é uma das exceções num ano a todos os títulos difícil para um país onde o turismo representa 12% do PIB. "Estou convencida que o Norte como um todo e o Minho em específico podem sair como um local muito procurado, depois desta fase de pandemia mais aguda".
A região do Alto Minho, abundante em rios, tem nas atividades náuticas uma das suas grandes potencialidades, e vê agora necessidade de se adaptar para poder reverter algumas das perdas a que assistiu nos últimos meses. No evento que decorreu no dia 10 de julho no Peneda-Gerês Adventure Center, a empresa Tobogã, uma das responsáveis pela exploração e dinamização de atividades náuticas e ao ar livre, apresentou as medidas de segurança adotadas, de forma a mostrar que é possível praticar estas atividades sem receio.
A procura já se faz sentir, mesmo com pandemia, mas o desafio de crescer neste contexto e de manter a identidade de uma proposta turística diferente acaba por unir a região ao país que também procura essa nova fórmula. "O turismo estava a sofrer de algumas dores de crescimento, temos plena consciência disso. Falávamos de fenómenos de turismo a mais, o overturism, como podíamos gerir o turismo nas cidades. São temas que não perderam oportunidade, temos de antecipar que possam ocorrer no futuro, porque o turismo vai ressurgir, vamos todos querer viajar, temos boas perspetivas, inclusivamente para o próximo ano".
Enquanto esse novo tempo não chega, o tempo é de potenciar as regiões que melhor podem responder à retração no setor."O facto de todos termos plena consciência do que já vivemos e do que não queremos voltar a viver, força-nos a ter uma promoção do destino turístico não em busca de mais turistas, mas do melhor turista, daquele que está mais disponível para usufruir da natureza, para respeitar as comunidades que os recebem, para procurar soluções mais saudáveis, a nível de oferta turística, e pagar por isso".
Esta é uma mudança que Rita Marques acredita que veio para ficar. "Se esta pandemia nos foi útil para alguma coisa, é justamente para nos sensibilizar que todos nós temos de viver melhor uns com os outros, temos de viver melhor com a natureza, usufruir mais destes espaços e estarmos disponíveis para pagar por isso".
O factor preço traz inevitavelmente à conversa a dualidade que não é de hoje entre a atração - e preocupação - com o turista interno e a busca dos turistas oriundos de outros países, nomeadamente daqueles que têm mais poder de compra. O turista nacional é o valor seguro em tempo de crise, mas nas alturas de retoma o foco é o exterior. O Minho não é caso único quando se pensa numa estratégia de segmentação e até de preservação dos espaços suportada num preço mais elevado, que pode não estar ao alcance dos rendimentos médios em Portugal. Rita Marques considera que o movimento se rá outro e passa por uma redefinição da ideia de férias.
"Estou convencida que os portugueses vão estar dispostos a pagar esse preço por uma experiência de um ou dois dias. Vão valorizar mais. Posso ter dinheiro para ir para uma determinada oferta durante 7 dias, mas se calhar prefiro ficar apenas 2 ou 3 pagando aquilo que aquela oferta cobra, e valorizar essa experiência", exemplifica.
O turismo do futuro, diz, está assente em novos conceitos. "Vamos ter o que chamamos de “as microcations”, férias distribuídas ao longo do ano. Vamos ter as “slowcations”, que são justamente estas férias em que se procura a calma e a natureza. Naturalmente que as cidades vão ter sempre o seu lugar e as pessoas vão continuar a querer visitar as cidades, mas a tendência é para as microcations, as slowcations".
Para o Alto Minho, e não só, o mercado espanhol é de importância fundamental. Razão pela qual o Governo está a trabalhar com Espanha na definição de uma oferta turística ibérica que possa beneficiar os dois países.
"Temos 40 milhões de espanhóis mesmo aqui ao lado mas Espanha consegue, anualmente, captar 90 milhões de turistas que aterram no território espanhol, vindos de várias proveniências. Estou a trabalhar nesse projeto com as quatro regiões fronteira, que é conseguirmos vender mais oferta turística ibérica. Alguém que por exemplo, vem do Peru ou da Colômbia ou do Chile para Espanha e, já agora faz mais dois ou três dias, por exemplo, no Minho".
Do Alto Minho para o país, há ideias que podem funcionar a uma escala maior, acredita a secretária de Estado.
"No turismo estávamos a crescer muito já em 2019, mais de 10% em janeiro, 12% em fevereiro deste ano. O Norte tem sido, de facto uma região, em particular aqui o Minho, que tem crescido muitíssimo. A pandemia veio colocar tudo em suspenso. Tivemos de ficar confinados em casa durante muitos dias, muitas semanas, meses, e veio agudizar uma vontade, de todos nós, de sair, de sentir liberdade, acima de tudo. E a liberdade sente-se, justamente, em espaços como este em que há natureza, em que há uma paisagem cénica muito bonita, em que há gente simpática, boa gastronomia, em que há bom tempo e o Minho nessa perspetiva veio reafirmar a sua oportunidade enquanto destino turístico".
"A minha esperança é que todos aqueles que ainda não tiveram oportunidade de conhecer o Norte e em particular o Minho, que venham este ano, que possam usufruir de tudo o que tem para oferecer e que possam repetir para o ano".
No mapa de problemas que o Governo e as entidades de gestão do turismo têm à frente em 2020, o Minho faz parte das regiões que não estão no vermelho. "O Minho está claramente no verde, no sentido em que tenho consciência que tem uma oferta turística que este ano vai atrair turistas. Até porque não tem grande dependência dos mercados que, neste momento, estão mais impactados, como o Reino Unido e outros. Portanto, tem todas as valências para poder reagir bem à crise pandémica que vivemos. Outras geografias em Portugal, estão mais impactadas e toda a gente sabe que falamos do Algarve ou da Madeira ou de Lisboa, que neste momento tem uma situação mais periclitante. Aliás é o Verde-Minho, não podia dar outra cor, em boa verdade".
Este artigo faz parte do dossier "Alto Minho: na rota do que é "sustentável por natureza" que conta com o apoio do projeto "ECODESTIN_3_IN", cofinanciado pelo programa POCTEP - Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal
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