"Se for esse o seu entendimento, o Conselho [Nacional] pode retirar a confiança à direção nacional e assumir democraticamente a responsabilidade de a demitir. Se os contestatários não conseguiram reunir as assinaturas para a apresentação de uma moção de censura, eu próprio facilito-lhes a vida e apresento [...] uma moção de confiança", afirmou Rui Rio, numa declaração à imprensa.
Esta medida foi tomada em reação ao desafio que Luís Montenegro fez ao presidente do PSD na sexta-feira, 11 de janeiro, de convocar eleições diretas de imediato para a direção do partido, considerando-se "o adversário que o Dr. António Costa não teve".
A um dia de completar um ano à frente do PSD, Rui Rio disse estar a ser alvo desde que tomou posse de um "espetáculo deplorável de guerrilha interna permanente" a si e "direção nacional democraticamente eleita” e equacionou Luis Montenegro com um dos responsáveis pelo estado de coisas do partido.
Ao antigo líder da bancada parlamentar social-democrata, o atual presidente do PSD reservou duras palavras, lembrando que "o primeiro ato desse espetáculo foi precisamente a atuação do dr. Luís Montenegro no recente congresso do PSD. Apenas um mês depois da minha eleição, sem que os órgãos nacionais e eu próprio tivéssemos sequer tomado posse, sem que nada houvesse a apontar ao meu mandato, que ainda nem sequer se tinha iniciado, já Luís Montenegro se manifestava descontente e se declarava opositor."
Considerando a postura de Luís Montenegro "eticamente questionável", Rui Rio disse que o dirigente "tinha toda a legitimidade a ser candidato do partido, não o fez por razões que agora se percebe terem sido puramente táticas", considerando ilegítimo "que quem podendo disputar as eleições, opta por não o fazer para depois condicionar os calendários do partido à sua própria agenda pessoal".
Rejeitando o desafio de Luís Montenegro, Rui Rio considerou o PSD "um partido grande demais para estar subjugado a agendas pessoais" e a "permanentes manobras táticas", justificou a decisão lembrando que "lançar o PSD numa nova disputa interna à porta de eleições, é fazer o jogo do Partido Socialista e prestar serviço de primeiríssima qualidade a António Costa".
De acordo com Rio, Montenegro “entende que o partido se deve atolar, outra vez, num longo processo eleitoral interno, abandonando nos próximos meses a oposição ao PS e a construção de uma alternativa de governo”.
“Não há memória de, na história da democracia portuguesa, um dirigente partidário ter lançado propositadamente tamanha confusão e instabilidade no seu partido a tão pouco tempo das eleições”, disse.
O líder social-democrata disse ainda que “repudia” e deve “combater” a “permanente política do bota-abaixo e da sobreposição egoísta do interesse partidário ao interesse nacional”.
“Nunca enganei ninguém. Foi isto que sempre disse, particularmente durante toda a campanha para a eleição interna que disputei há precisamente um ano”, recordou.
Rio indicou também ter “referido que os partidos têm de ser capazes de se reformarem, de se livrarem da teia de interesses em que se deixaram envolver e de recuperar a credibilidade”.
“Estou convencido de que, se assim não for, não só a democracia se vai desvirtuando, como o país não estará capaz de encontrar soluções que resolvam os atrasos estruturais de que há muito padecemos”, afirmou.
Citando Francisco Sá Carneiro, Rio terminou o discurso afirmando que “a política sem risco é uma chatice”, mas “sem ética é uma vergonha”.
O presidente do PSD já tinha sido questionado duas vezes sobre o desafio de Luís Montenegro - sexta-feira à noite no Porto, após uma audiência com o Presidente da República, e hoje em Coimbra, depois de uma reunião do Conselho Estratégico Nacional – e ambas as ocasiões prometeu reagir “a seu tempo” e que não ia "fazer de conta que nada está a acontecer" porque "seria uma grande hipocrisia".
Tal como na comunicação de Montenegro, a declaração de Rui Rio não teve direito a perguntas pelos jornalistas presentes.
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