Num ano com europeias em maio, regionais da Madeira em setembro e legislativas em outubro, a situação interna tensa no PSD agravou-se esta semana depois de ser conhecido um movimento de vários dirigentes distritais de recolha de assinaturas com vista à convocação de um Conselho Nacional extraordinário com o objetivo de apresentar uma moção de censura à direção.
Na quarta-feira, o antigo líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, prometeu quebrar o silêncio sobre o futuro do partido, o que concretizou na sexta-feira, manifestando a disponibilidade para se candidatar à liderança e desafiando Rui Rio a convocar eleições diretas antecipadas de imediato, que ainda não teve resposta formal por parte do presidente do partido.
Se forem convocadas eleições diretas, Miguel Morgado, antigo assessor político de Passos Coelho, já disse que irá também “ponderar muito a sério” a possibilidade de ser candidato.
No final de 2017, Rio apresentou-se como candidato à liderança do PSD prometendo “fazer diferente” e “um banho de ética” na política, e quando derrotou Pedro Santana Lopes nas diretas avisou que o PSD “não foi fundado para ser um clube de amigos”.
As tensões internas começaram ainda antes do Congresso que o 'entronizou' em fevereiro, com o afastamento de Hugo Soares da liderança parlamentar do PSD, cargo em que viria a ser substituído por Fernando Negrão, eleito com pouco mais de um terço dos votos dos deputados.
Apesar da mudança, nem sempre Rio e Negrão estiveram em sintonia, com o momento mais tenso a surgir a meio do ano, quando fonte da direção do partido acusou a bancada de ter votado um projeto do CDS sobre combustíveis “à revelia” do líder.
Depois de ter prometido “uma oposição firme, mas não demagógica” ao Governo, Rui Rio assinou em abril dois acordos com o executivo: um sobre os princípios gerais do processo de descentralização e outro em que PSD e o executivo concordam que Portugal não pode perder fundos no próximo quadro comunitário.
Perante críticas internas de que o partido estaria a ser “uma muleta do Governo”, Rio contrapôs que quando os entendimentos “são bons para o país, são bons para o PSD”.
Para as europeias, o primeiro ato eleitoral do ano que se disputa em 26 de maio, o PSD ainda não anunciou se mantém Paulo Rangel como cabeça de lista, mas já disse que o PSD não subir em relação a 2014 – quando conseguiu 27,7% dos votos coligado com o CDS-PP - seria um “mau resultado” que, no entanto, não comprometeria a sua permanência à frente do partido.
Sobre as legislativas, e antes desta crise interna, Rio vinha defendendo que o PSD chegaria a 06 de outubro em condições de as disputar “taco a taco” com o PS – apesar de as sondagens apontarem uma grande distância para os socialistas -, e admitia que o resultado dessas eleições será “um elemento nuclear” para decidir sobre a sua continuidade.
As críticas mais frequentes do líder do PSD ao Governo centraram-se no que chamou de “falhas do Estado” e da governação nos serviços públicos, em particular a saúde, e em áreas de soberania, como a segurança dos cidadãos e a defesa, sendo o caso de Tancos apontado por Rio como “o mais emblemático”.
O líder social-democrata tem acusado o executivo liderado por António Costa de “enganar os portugueses”, alimentando expectativas a várias classes profissionais – como os professores - que depois não tem cumprido, explicando desta forma “o surto brutal” de greves na reta final do ano.
No plano económico, o PSD só anunciou o voto contra o Orçamento do Estado para 2019 depois de ver o documento, mas Rio foi acusando o Governo de adotar a postura de ‘cigarra’ e não aproveitar as folgas geradas pela boa conjuntura internacional para preparar o futuro e fazer reformas estruturais.
A justiça foi outra das áreas no centro da estratégia de oposição de Rio, que se reuniu com todos os agentes do setor para produzir um documento de reforma do setor ainda não apresentado publicamente, mas já divulgado junto do Governo e dos partidos com vista à busca de consensos.
Internamente, foram-se sucedendo casos polémicos envolvendo dirigentes de Rio, como os vice-presidentes Salvador Malheiro e Elina Fraga, culminando no do ex-secretário-geral Feliciano Barreiras Duarte acusado de falsificar o currículo de informações prestadas ao parlamento, que levariam à sua demissão um mês depois de eleito.
No final do ano, foi o seu substituto, José Silvano, a ser confrontado com falsas presenças registadas em plenários da Assembleia da República onde não esteve, mas Rio manteve a confiança política no seu secretário-geral.
Em agosto, o PSD viu sair uma das suas figuras mais carismáticas, Pedro Santana Lopes, que já foi líder do partido e primeiro-ministro, para fundar um novo partido, a Aliança.
Rio tem desvalorizado o efeito eleitoral desta nova formação política, defendendo que o PSD até pode perder 1 ou 2 pontos à sua direita, para ir buscar votos ao centro-esquerda e à abstenção.
A relação com o CDS-PP, parceiro de coligação governamental na última legislatura, foi distante, com Rio a reunir-se formalmente apenas uma vez com a presidente democrata-cristã, o que aconteceu já depois do encontro com António Costa.
O Conselho Estratégico Nacional – órgão que Rio criou para “mudar a forma de militância” no PSD e preparar o programa eleitoral – foi a principal marca interna deixada pela nova direção e tem a sua primeira Convenção Nacional marcada para 16 de fevereiro.
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