”Seul deve estar ciente de que a possível utilização de armas sul-coreanas para matar cidadãos russos destruirá definitivamente as relações entre os nossos países”, avisou o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Andrei Rudenko, em declarações à agencia de notícias russa, a Tass, citado pela Efe.

Rudenko apelou à Coreia do Sul que para que não tomasse “medidas imprudentes” e para que olhe para os seus interesses nacionais a longo prazo e não para situações de curto prazo “ditadas pelo exterior”.

“Quanto a Seul associar o seu eventual fornecimento de armas a Kiev ao desenvolvimento da cooperação entre Moscovo e Pyongyang, tal atitude poderia ter consequências muito negativas. É óbvio que o conflito ucraniano não tem nada a ver com a península coreana”, sublinhou o diplomata russo.

Segundo avisou Rudenko, caso a Coreia do Sul forneça armas a Kiev, a Rússia vai “naturalmente, responder com todos os meios que considerar necessários”, o que “dificilmente reforçará a segurança da própria República da Coreia”.

O vice-ministro acusou ainda as autoridades sul-coreanas de instigarem artificialmente a controvérsia sobre a presença de soldados norte-coreanos na zona da “operação militar especial” na Ucrânia, a fim de “aumentar a pressão militar sobre Pyongyang”.

“Por sua vez, cumpre os objetivos do Ocidente Coletivo, que procura envolver a Coreia em esforços conjuntos para fornecer armas ao regime do (presidente ucraniano Volodymir) Zelensky e, assim, torná-la cúmplice dos crimes cometidos pelos ocidentais”, acrescentou.

A cooperação bilateral entre Moscovo e Pyongyang, que inclui um acordo de assistência mútua em caso de agressão, defendeu Rudenko, baseia-se no direito internacional e “não é dirigida contra qualquer país terceiro, incluindo a República da Coreia”.

Os avisos e alertas de Moscovo surgem depois do Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, ter afirmado, numa entrevista à EFE que Seul está preparada para “aplicar medidas efetivas” caso a Rússia e a Coreia do Norte não acabarem com a “aventura militar” na Ucrânia.

Entre aquelas medidas está o “reforço do apoio à Ucrânia”, em cooperação com os aliados e países que “partilham as mesmas ideias” que Seul.

Até à data, Seul tem respeitado a lei do comércio externo que impedem a Coreia do Sul de transferir diretamente armamento letal para países “em guerra”, como a Ucrânia.

Também os Estados Únicos e a NATO foram alvo de acusações de Rudenko, que os acusou de apostarem num forte aumento da militarização da Ásia, fornecendo aos países da região todo o tipo de armamento, incluindo o proibido pelo tratado de eliminação de mísseis de curto e médio alcance (INF), ao qual os EUA renunciaram em 2019.

Como exemplo, Rudenko apontou o aumento do fornecimento de armas a Taiwan sob o pretexto de manter o ‘status quo’ na região, uma ingerência que, segundo a Rússia, visa “provocar a China e gerar uma crise na Ásia para os seus próprios interesses”.

“Os EUA e os seus satélites, incluindo a União Europeia, estão a aquecer intencionalmente a atmosfera no Estreito de Taiwan. Estão a usar os mesmos métodos que usaram para transformar a Ucrânia numa guerra contra a Rússia e minar os nossos laços tradicionalmente estreitos e amigáveis com esse país”, citou a Efe.