O caso foi denunciado esta quarta-feira, 13 de fevereiro, pelo The New York Times (NYT), onde sete mulheres relatam um comportamento abusivo e manipulador por parte de Ryan Adams, que fazia depender o seu apoio em projetos musicais de favores sexuais, sujeitando mulheres a abusos verbais, emocionais e assédio quando isso lhe era negado.

Ryan Adams, de 44 anos, conta com 16 álbuns, 7 nomeações para os Grammy e já produziu com Willie Nelson, escreveu para Tim McGraw e gravou com John Mayer. Além disso, detém a label Pax-Am, que tem ligação ao grupo Capitol Music. Assim, o apoio ou o “selo” de qualidade de Ryan Adams tinha bastante peso no universo musical.

“A música era uma forma de controlo para ele”, descrever Mandy Moore, cantora, atriz e ex-mulher de Ryan Adams.

Entre os casos denunciados ao jornal norte-americano está o de Ava, uma adolescente com quem Adams começou a corresponder-se, tendo as mensagens evoluído para conteúdo gráfico, incluindo chamadas de vídeo e chamadas com teor sexual. 3.217 mensagens trocadas entre os dois num período de nove meses foram analisadas pelo NYT, período durante o qual Ava teve 15 e 16 anos. Nas interações, Ryan Adams questionou Ava várias vezes sobre a sua idade — e esta admite ter dito que era mais velha do que efetivamente era. Eles nunca se encontraram.

O advogado do cantor, Andrew B. Brettler, afirma que o cantor nega “inequivocamente” ter tido “comunicações online impróprias com teor sexual com alguém que sabia ser menor de idade”, mais “se, de facto, era mulher era menor, o sr. Adams não sabia”.

Outro dos casos é de Phoebe Bridgers, com 20 anos à data, convidada por Adams para atuar no estúdio da Pax-Am, que deslumbrou o cantor e a quem este ofereceu uma guitarra vintage. Entre discussões sobre o futuro de Bridgers na produtora, Adams começou a flirtar com esta, chegando mesmo a mencionar casamento quando o seu relacionamento tinha menos de uma semana. Ao mesmo tempo, insistia para que ela abrisse os seus concertos nas semanas seguintes durante uma tour europeia.

Nas semanas seguintes, Adams tornou-se obsessivo e emocionalmente abusivo, relata Bridgers, barrando as suas mensagens, querendo saber constantemente onde esta estava ou forçando-a a sair de situações sociais para ter sexo pelo telefone, e chegou a ameaçar suicídio caso esta não respondesse imediatamente.

Acabaram por terminar o relacionamento, mas Adams continuou atrás da cantora, aliciando-a com promessas que poderiam catapultar a sua carreira.

“No primeiro dia [de uma tour em 2017] ele pediu-me para lhe trazer algo ao quarto do hotel. Eu subi e ele estava completamente nu”, relata Phoebe Bridgers.

Segundo o advogado de Adams, o cantor recorda este relacionamento como algo “breve e consensual” e nega o relato do incidente no hotel.

Outras duas cantoras e compositoras, que preferiram manter o anonimato, relataram ao jornal um comportamento semelhante de Ryan Adams: desde ficar entusiasmado com os seus trabalhos, a oferecer-lhes a oportunidade de atuar em tours, passando para uma perseguição romântica agressiva, à qual se seguiram mensagens de assédio e ameaças de retaliação profissional.

Outro dos casos expostos é o de Courtney Jaye, com 35 anos à data, a quem a cantora e compositora apelidou de “Furacão Ryan”. Acabaram no quarto, mas não chegaram a ter sexo. Jaye diz que se sentiu incomodada pelo facto de sentir que Adams tirou partido dela de forma sedutora. Ainda trocaram algumas mensagens depois desse dia, mas nunca chegaram a gravar nada juntos.

O caso de Mandy Moore é também aqui descrito. A atriz de "This is Us" e cantora foi casada com Ryan Adams durante quase seis anos, período durante o qual relata abusos emocionais que travaram a sua carreira — entre os quais um comportamento controlador que a impediam de explorar outras ligações na indústria. Adams prometeu gravar um álbum dela mas nunca o fez, e dizia-lhe que ela nunca seria uma “uma artista musical a sério porque não tocava um instrumento”. O divórcio foi finalizado em 2016.

Por fim, é ainda relatado o caso de Megan Butterworth, que chegou a estar noiva de Ryan Adams e que o retrata igualmente como um parceiro controlador e emocionalmente abusivo, tendo-a isolado socialmente e profissionalmente durante o seu relacionamento, tentando ditar com quem esta se encontrava ou com quem trabalhava. Em determinados momentos, conta, Ryan Adams tinha comportamentos violentos, partindo coisas e intimidando-a, mas nunca chegou ao ponto de a agredir.

Quando o relacionamento de ambos terminou, Adams inundou-a de mensagens de texto, telefonemas e emails, conta, oscilando entre apelos emocionais e ameaças e suicídio e processos judiciais.

Apesar de negar estas acusações através do seu advogado, Ryan Adams assumiu através do Twitter que “não é um homem perfeito” e cometeu erros. “A todos aqueles que possa ter magoado, mesmo que sem intenção, eu peço profundamente desculpa”.