Os casos de sarampo têm aumentado semana após semana e de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número declarado em todo o mundo aumentou 79% em 2023, para mais de 306 mil, face a 2022.

Em Portugal, contudo, ainda se pensa que não é razão para alarme.

Quem o diz é Rita Sá Machado, diretora-geral da Saúde. "Existe um risco elevado de termos casos importados [de sarampo] em Portugal. Mas o que é importante de referir são as nossas boas coberturas vacinais. Por isso, reforço a ideia de mantermos estas boas coberturas. Aquilo que acontece, é que o vírus depois não se propaga", salientou Rita Sá Machado à RTP.

Pelo mesmo diapasão afina outra especialista.

"Existem ótimas taxas de vacinação no nosso país e a vacinação é a única arma contra o sarampo. O trabalho a seguir é mesmo este, continuar esta campanha", começou por dizer ao SAPO24 a pediatra Maria Reis, especialista em doenças infecciosas, que não se esquece dos últimos números das vacinas contra o sarampo.

"Houve um decréscimo, sim, sobretudo por altura da pandemia de Covid-19, mas não o suficiente para haver tanto alarmismo, há taxas excelentes de vacinação nos primeiros anos de vida das crianças. Os casos que têm surgido são normais, sobretudo por tudo o que se passa no mundo, com muitos casos de crianças infetadas. Basta uma criança portuguesa não estar vacinada para que possa ser contagiada, dado que é uma doença de fácil contágio. Os casos que têm surgido estão controlados, mesmo lá fora, a grande maioria dos que surgiram também foram facilmente controlados.", diz.

Quais são os sinais e sintomas?

Os sinais e sintomas do sarampo são:

  1. início com febre e mal-estar, seguido de corrimento nasal, conjuntivite e tosse;
  2. de seguida e nalgumas situações podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de 1 a 2 dias antes do aparecimento da erupção cutânea;
  3. aparecimento da erupção cutânea (“manchas” que se iniciam na face e que depois se espalham para o tronco e para os membros), febre alta e estado de extremo cansaço físico e psíquico.

Qual é o período de contágio?

O contágio pode ocorrer desde 4 dias antes e até 4 dias após o início da erupção cutânea. O período de contágio pode ser mais prolongado nos doentes imunocomprometidos.

O que devo fazer se tiver um contacto próximo com uma pessoa com sarampo?

Se teve contacto com uma pessoa com diagnóstico de sarampo deve ser vacinado, de preferência nas primeiras 72 horas pós-exposição, se aplicável. A administração de imunoglobulina é realizada se a vacina for contraindicada.

No que diz respeito aos números em Portugal, a cobertura nacional com a primeira dose da vacina (que ocorre aos 12 meses da criança) contra o sarampo diminuiu de 96% em 2019 para 93% em 2022, enquanto a cobertura da segunda dose (administrada aos cinco anos) caiu de 92% em 2019 para 91% em 2022. A DGS, contudo, salienta também que existem coberturas de 98%-99% no primeiro ano de vida e de 97%-98% no segundo ano de vida, sendo que aos cinco/seis anos atingem os 95%.

"Temos uma taxa alta de vacinação, não totalmente dentro do enquadramento da ECDC, mas muito próximos. Acredito que com estas notícias são muitos os pais que já procuraram vacinar as suas crianças, aquelas que não tinham vacinas ou não as tinham completas"Pediatra Maria Reis

Contactado pelo SAPO24, e confrontado com os números de Portugal, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) diz que devido à "facilidade com que o sarampo se espalha, é necessária uma elevada cobertura vacinal, de 95% ou superior da população vacinada com duas doses da vacina, estes valores são essenciais para interromper a transmissão num país ou comunidade".

Maria Reis concorda com a análise do ECDC, mas salienta que esses números podem ser facilmente alcançados. "Como referi anteriormente, temos uma taxa alta de vacinação, não totalmente dentro do enquadramento da ECDC, mas muito próximos. Acredito que com estas notícias são muitos os pais que já procuraram vacinar as suas crianças, aquelas que não tinham vacinas ou não as tinham completas", referiu.

sarampo
Créditos: SNS

As entidades estimam que mais de 1,8 milhões crianças na UE perderam a vacinação contra o sarampo entre 2020 e 2022.

E são estes números que preocupam outras entidades. Natasha Crowcroft, da OMS, explica ao SAPO24 as razões dessas preocupações.

"Em 2022 o número de mortes devido ao sarampo aumentou 43% e devido à queda do número de vacinação prevemos que esse número vá aumentar em 2023, até por os casos registados têm também vindo a aumentar. Portugal? Os casos vão continuar a aumentar em todo o lado, mesmo em Portugal. É algo natural, mais de metade de todos os países do mundo estarão em risco elevado ou muito elevado de surtos até ao final deste ano. Portugal, ou qualquer outro país, não pode baixar a guarda e pensar que tem uma grande cobertura vacinal, tem de continuar a vacinar, para chegar aos números ideais. 95% das crianças deveriam estar vacinadas em todo o mundo e a verdade é que esse número baixou para 83% nos últimos anos", salientou, mostrando-se sobretudo preocupada com os chamados países de terceiro mundo.

"As vacinas chegam a esses locais, mas há muitos pais que acabaram por não vacinarem os seus filhos, sobretudo pela falta de acessos aos locais de vacinação. Os principais surtos são nesses países e depois é natural que se espalhe por outros continentes", disse.

Resumidamente, há demasiado alarmismo além fronteiras ou demasiado otimismo em Portugal?

"Penso que não há alarmismo nas principais entidades, nem otimismo em Portugal. É natural que entidades com o a OMS e a ECDC façam este tipo de alertas. Isto não são alertas apenas para os governos, mas para as pessoas em si. E nós sabemos que de uma forma mais sensacionalista é mais fácil convencer as pessoas, neste caso, a serem vacinadas ou a vacinarem as suas crianças. As entidades sabem que são números normais para o que aconteceu nos últimos anos, há mais casos de sarampo, como há mais casos de outras doenças. Quanto ao otimismo em Portugal, também não é a palavra que se deva escolher. Portugal foi considerado pela OMS como zona limpa de sarampo em 2016 e agora têm surgido casos, isso não é caso para otimismo. Existe, sim, muita calma face a esta situação porque, volto a dizer, as taxas de vacinação são muito boas e tenho a certeza que vão melhorar, agora com todas estas notícias sobre a doença", assinalou a pediatra Maria Reis.