
Não existe uma campanha para converter identidades ou semear dúvidas na mente de ninguém, muito menos nas camadas mais jovens. Existem sim coletivos empenhados em criar ambientes seguros para todas as pessoas, independentemente das suas caraterísticas identitárias, através da informação e educação para a diversidade. A tão badalada expressão “ideologia de género” é um termo que de científico não tem nada, foi construído sem qualquer base académica por setores conservadores como arma política contra a educação sexual e de género nas escolas e contra medidas públicas que protegem pessoas com diversidade de género. Trata-se, pois, de um rótulo criado para gerar pânico moral e confundir a população com desinformação sobre o tema, travestido de vontade de pugnar pelos valores tradicionais e pela integridade física e psicológica das crianças. Mas só algumas, claro: não nos podemos esquecer que as crianças trans* existem sim, não são uma personagem ficcional, e que os seus direitos básicos (ex: direito à própria identidade, direito a utilizar casas de banho, direito a praticar desporto, etc.) não podem ser utilizados levianamente como armas políticas. É um assunto sério, que deve ser levado com toda a consideração e responsabilidade que lhe é devida.
Mas em que medida é que pessoas trans* são, afinal, uma ameaça à moralidade? Ter uma identidade de género ‘não normativa’ não é uma afronta aos valores tradicionais, não é uma perversão nem é perigoso. Faz parte da diversidade humana, deve ser acolhida e incluída e não invisibilizada ou atacada. Quando é que, historicamente, promover o apagamento de um qualquer setor populacional trouxe bons resultados? Crianças e jovens devem sim ter acesso a informações que podem protegê-las contra abusos, preconceito e sofrimento. Está mais do que comprovado que o medo, a exclusão e o apagamento de vivências levam a quadros graves de ansiedade, depressão e suicídio, especialmente entre jovens trans*. Falamos aqui de dados científicos, não de manchetes de tabloides sensacionalistas ou do alarmismo alicerçado em singulares relatos de caso que é gerado com o intuito de distorcer a narrativa e atacar a dignidade do trabalho que é feito nesta área.
Felizmente, em Portugal assistimos nos últimos anos a um considerável investimento na formação e sensibilização de profissionais de saúde nesta temática. Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer, muitas foram já, certamente, as vidas salvas e positivamente impactadas por quem se dedica à prestação de cuidados de saúde a pessoas com diversidade de género. Se curiosidade houver sobre os meandros do trabalho médico realizado nesta área, poderão ouvir o Episódio “Cuidar sem preconceitos: Saúde e Afirmação de Género” do PodCast Top of Mind.
__
O Top of Mind é um podcast da BIAL, produzido pela MadreMedia e apresentado por Margarida Santos. O Podcast em que o conhecimento tem a palavra, é um espaço onde a ciência e a medicina inspiram e transformam.
Comentários