Os dados dos primeiros nove meses do ano, a que a Lusa teve acesso, indicam que houve 1.142 ocorrências da unidade móvel de intervenção psicológica de emergência e foram atendidas 6.938 chamadas de situações em que houve intervenção psicológica.
Comparativamente com os primeiros nove meses do ano passado, representa um aumento de 4,4% (1.099 saídas em 2021). As chamadas foram quase em linha com as do ano passado (6.957).
“É uma tendência que já verificámos em 2021, que se mantém sustentada, com um elevado número de pedidos de ajuda, nomeadamente no terreno, com mais saídas, um aspeto que deve ser valorizado”, disse à Lusa a psicóloga Sónia Cunha, responsável pelo Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM.
A especialista disse ainda que se mantém a preocupação quanto aos pedidos de ajuda dos mais jovens, uma situação que já havia sido identificada, quando os dados mostraram um aumento de 50% nos pedidos de apoio dos jovens em dois anos de pandemia.
“Há um número elevado de pedidos de ajuda para situações mais preocupantes e com maior risco, como os comportamentos suicidários, e situações de risco de vida, a que acrescem as situações no terreno”, sintetizou.
A responsável pelo CAPIC aponta ainda um crescimento dos incidentes críticos (que já tinham aumentado no ano passado), sobretudo por “morte inesperada e traumática”, em muitos casos relacionados com acidente de viação, mas também com “perturbação emocional“, nomeadamente comportamentos suicidários.
Os dados da atividade do CAPIC, de janeiro a abril deste ano, indicam um total de 3.528 pedidos de ajuda, 1.334 dos quais são casos de alteração comportamental/estado emocional – inclui casos de psicopatologia agudizada, crises de ansiedade, ataques de pânico, agressividade e perda de controlo emocional - e 1.267 comportamentos suicidários.
Sónia Cunha admitiu que estes números traduzem efeitos da pandemia: “Nós sabemos que os acontecimentos exigentes e com potencial traumático (…) têm o maior potencial de nos influenciar e provocar alterações”.
A especialista alertou que é “crucial” investir nas respostas na área da saúde mental e sublinhou que estes números vêm sustentar essa necessidade.
“A pandemia veio trazer para a ribalta a saúde mental. Isso é um aspeto importante, é um desmistificar e um combate aos tabus. Mas, de facto, falta depois dar os passos seguintes. Falta a concretização, o investimento, o apostar efetivo naquilo que já foi identificado como crucial para a saúde, para o bem-estar global”, considerou.
Na primeira linha “será o investimento nos serviços de saúde mental, com respostas mais robustas, mais sustentáveis”, disse a responsável do CAPIC, defendendo uma reestruturação que permita consolidar estas respostas com psicólogos, psiquiatras e enfermeiros.
“Mas também com recursos da comunidade, que sejam mais próximos e que permitam dar resposta, não no sentido curativo, mas preventivo, para capacitar, aumentar a robustez e capacidade das comunidades e dos indivíduos e, com isso, prevenir e adotar melhores estratégicos”, explicou.
A especialista chama ainda a atenção para a importância de falar sobre o assunto - “uma medida preventiva muito eficaz” -, sobretudo em matérias de comportamentos suicidários.
“Um dos alertas que nós sempre fazemos é precisamente [a importância de] falar, valorizar e não ignorar. Muitas vezes pessoas que têm receio e não sabem como lidar”, disse.
Defendeu ainda que toda a comunidade se deve envolver na procura de alternativas e soluções, alertando que o problema “se vai intensificando”.
“Não sabemos qual o rumo que irá tomar, mas os indicadores não são positivos, portanto há aqui um investimento a fazer”, insistiu.
O CAPIC do INEM foi este ano distinguido com o Prémio Nacional de psicologia 2022, atribuído pela Ordem dos Psicólogos e a responsável pelo centro sublinhou a importância deste reconhecimento em relação à “crescente valorização da intervenção psicológica em contexto de emergência e da importância do apoio aos cidadãos em situações de especial complexidade e crise”.
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