“Não vou ser ingénua, ainda há desafios, mas demonstrámos que as migrações são uma questão que é possível gerir, especialmente quando trabalhamos em conjunto”, disse Ylva Johansson, em entrevista à Lusa e outras agências de notícias.

A comissária considerou que há cinco anos, quando iniciou funções, as decisões políticas sobre as migrações “eram vistas como um tópico tóxico”.

“Ninguém queria realmente chegar-se à frente e eu acho que isso se alterou dramaticamente e a decisão do Novo Pacto em Matéria de Migrações e Asilo é histórico”, completou.

A comissária defendeu que a União Europeia foi pioneira nesta matéria: “Se olharmos a nível mundial, de facto, somos os únicos que conseguiram acordar um pacto de migrações compreensivo.”

“Olhem para os Estados Unidos da América, por exemplo. Em 40 anos não conseguiram um apoio bipartidário [do Partido Democrata e do Partido Republicano] nesta matéria, e ainda estão longe de o alcançar”, completou.

Ylva Johansson disse que “95%, talvez 97% das posições dos Estados-membros [sobre as migrações] são uma questão demográfica e só cerca de 3% são ideologia”. Cada Estado-membro tinha as suas preocupações, daí ter levado tanto tempo até que se encontrasse um caminho o mais consensual possível.

Mas resolver o desafio das migrações também tem efeitos na ideologia, nomeadamente em retirar força às ideias xenófobas, racistas e discriminatórias, afirmou.

Associações que disponibilizam apoio a migrantes:

JRS Portugal — O gabinete jurídico "tem como objetivo assessorar juridicamente os utentes no seu processo de regularização, bem como emitir pareceres e orientações técnicas internas em matérias de Lei de Estrangeiros, Lei de Asilo e legislação acessória". Saiba mais aqui.

Renovar a Mouraria — Centrada na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, esta associação ajuda com os processos de regularização de quem "vive, trabalha, estuda ou tem filhos que estudam" naquela zona. Conheça o projeto aqui.

Lisbon Project — Este projeto tem como objetivo "construir uma comunidade que integra e capacita migrantes e refugiados". Nesse sentido, tem também disponível um gabinete de apoio jurídico. Fique a par de tudo aqui.

Mundo Feliz — Esta associação ajuda os imigrantes no processo de regularização em Portugal e também na procura de emprego, entre outros serviços. Saiba mais aqui.

Linha de Apoio ao Migrante — Esta linha "tem como principal objetivo responder de forma imediata às questões mais frequentes dos migrantes, disponibilizando telefonicamente toda a informação disponível na área das migrações e encaminhando as chamadas para os serviços competentes". Contactos: 808 257 257 / 218 106 191. Mais informações aqui.

“Se continuarmos a trabalhar em conjunto e a demonstrar que é possível gerir [as migrações], a longo prazo isso vai retirar oxigénio à extrema-direita”, advogou.

“Nós andávamos a falhar nas migrações e isso era combustível para a extrema-direita”, resumiu.

As Canárias, arquipélago de Espanha, são um ponto de preocupação, já que o fluxo de passagem de pessoas, provenientes, principalmente, de África, tem aumentado drasticamente, pelo que Ylva Johansson disse que tem de ser abordada no próximo mandato.

E a propósito dos próximos cinco anos, ainda com Ursula von der Leyen ao leme da Comissão Europeia, mas com outro comissário para os Assuntos Internos, Ylva Johansson apontou três desafios para o executivo comunitário: os conflitos internacionais, as alterações climáticas e a Presidência dos Estados Unidos do republicano Donald Trump.

Estes três tópicos, acrescentou, também estão na origem de deslocações de pessoas.

André Campos Ferrão, da agência Lusa