“Tudo o que tenha a ver com alimentação animal começa a estar numa situação problemática […]. Neste momento, a região Sul é a mais atingida, juntamente com Trás-os-Montes. Na região do Ribatejo já se começa a notar e agora vai ser uma espécie de rastilho, porque se não houver chuva nos próximos dias, é num ápice que o estado das pastagens entra em quebra absoluta”, disse o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.
De acordo com o responsável, a falta de água já está a refletir-se no rendimento dos produtores, que, devido à redução do pasto, têm que comprar rações e alimentos grosseiros, como complementos e outros substratos.
“Isso tudo tem custos e há um outro problema que é a dificuldade em encontrar esses produtos, que são limitados. Portugal não é um país muito grande e tem a sua estrutura montada para que a alimentação animal seja ajudada por esses produtos em determinadas fases […], mas não para quase todo o ano”, explicou.
Eduardo Oliveira e Sousa notou ainda que, a longo prazo, este problema vai obrigar à mudança de culturas, como as que já se verificam no Douro, com a substituição de vinhas.
“Os agricultores não têm uma varinha mágica que diga como é que se resolve um problema que apareceu demasiadamente depressa e que está a dar-nos a informação de que veio para ficar. Os agricultores precisam de ajuda […] de quem tem conhecimento e possibilidade para se dedicar ao estudo desse problema, para produzir alternativas que sejam palpáveis, num curto espaço de tempo”, sublinhou.
O presidente da CAP alertou também que as plantas estão a entrar em fase de seca, dando origem “a um pasto fraco, com pouco volume”, o que leva os agricultores a utilizar mais cedo “as reservas que tinham para a fase crítica”, que uma vez esgotadas, podem implicar a importação de produtos para a alimentação animal.
O líder da confederação dos agricultores afirmou que é necessário que o Ministério da Agricultura avance com medidas para tentar mitigar este fenómeno, nomeadamente, através da União Europeia.
Algumas das medidas “são passíveis de autorização pela União Europeia, porque têm a ver com regulamentos da aplicação da Política Agrícola Comum [PAC] e, por isso, é fundamental que o ministério esteja atento a esta situação, porque a alimentação animal já está em crise em algumas regiões e vai entrar, de uma forma generalizada”, reiterou.
Por outro lado, sublinhou, as medidas de emergência, definidas pelo Governo em 2017, ainda não estão, novamente, a ser postas em prática.
“Ainda não há normas, anúncios, mas eu creio que não faltará muito”, assegurou.
Já sobre o Plano Nacional de Regadios, uma das soluções apresentadas pelo Governo para mitigar os efeitos da seca, Eduardo Oliveira e Sousa garantiu que, apesar de ser um bom programa, “não é obra que esteja já pronta”, nem é “suficientemente ambicioso”.
Por isso, a CAP “tem vindo a chamar à atenção do Governo” de que são necessários “estudos sobre outras obras [noutras] regiões que estão a entrar em carência e que não estão abrangidas” pelo plano.
“É necessário mais [nomeadamente] envolver entidades técnicas, criar um grupo que estude as regiões do país onde existem possibilidades de desenvolvimento, novos armazenamentos com objetivos múltiplos como o Alqueva […] para minimizar também os efeitos dos incêndios florestais que terão tendência a agravar-se”, concluiu.
O Programa Nacional de Regadios, apresentado pelo Governo em março de 2018, tem como objetivos aumentar, reabilitar e modernizar os regadios existentes e criar novas áreas, com uma dotação de 560 milhões de euros até 2023.
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