“Normalmente abastecemos os depósitos da câmara em agosto e setembro, principalmente em setembro. Nunca aconteceu nos meses de janeiro, fevereiro”, afirmou o comandante dos bombeiro de Boticas, Carlos Gomes.
É uma situação que acontece nos verões mais quentes e depois do mês agosto, em que a população aumenta significativamente com os emigrantes e os consumos, consequentemente, também aumentam.
Hoje, o camião cisterna da Proteção Civil encheu com 19 mil litros de água o depósito que fornece, depois, os 80 moradores de Valdegas. O mesmo já foi feito nos depósitos das aldeias de Vilarinho Seco, Lavradas e Carvalho.
Há 39 anos nos bombeiros, Carlos Gomes disse que não se lembra de uma situação idêntica em pleno inverno.
Toda a água da rede deste concelho do Norte do distrito de Vila Real é proveniente de nascentes.
“Este depósito tem duas nascentes, uma delas está seca e só corre para aqui uma nascente que não é suficiente”, especificou Carlos Gomes, relativamente a Valdegas.
Os funcionários da Câmara de Boticas monitorizam regularmente os depósitos de água espalhados pelo concelho e vão alertando para as necessidades. É através do furo existente no próprio quartel dos bombeiros, que se enche a cisterna do camião que distribui a água.
Mas, Carlos Gomes apontou para outra preocupação neste momento no concelho: os incêndios.
“É muito difícil o dia que não tenho duas ou três ignições, por isso já está a ser muito complicado. Se as condições meteorológicas continuarem assim, vai-se agravar mais ainda. Estamos no início de fevereiro e temos uma média de três, quatro ignições por dia, vai ser complicado”, referiu.
Numa altura em que os pastos deviam estar verdejantes, as cores que pintam a paisagem do Barroso são os castanhos e os amarelos por causa da falta de chuva e das geadas.
Perto da aldeia de Quintas, Alfredo Cadime, produtor de gado barrosão, disse que as vacas não têm erva para comer nos pastos e, por isso, têm de ser alimentados nos estábulos, com os fenos e cereais produzidos na exploração, mas que estavam armazenados para os meses de verão.
Os cereais são produzidos na exploração, mas, apontou, a sementeira feita no outono “não está a crescer, nem a desenvolver”.
“Tudo isto representa gastos e custos. Os custos de produção estão também elevadíssimos”, lamentou, apontando para uma combinação complicada neste inverno, com a falta de chuva, pastos e o preços dos materiais e também dos combustíveis.
E se não chover, Alfredo Cadime disse que é “preciso aguentar, não há outra solução, porque os animais não podem morrer à fome”
Embora a situação esteja, para já, “controlada”, perante estes “sinais preocupante”, a Câmara de Boticas lançou um apelo à população para uma contenção e consumo racional de água.
“Fundamentalmente é isso, é alertar as pessoas para o perigo que aí está. Nós já sentimos grande diminuição das nossas nascentes e, nesta altura, em que os pastos para o gado deveriam estar verdinhos, não estão”, afirmou o presidente da autarquia Fernando Queiroga.
O autarca pede, por isso, aos munícipes que “tenham cuidado” e “usem devidamente este valiosíssimo bem que é a água”.
“Que tenham muito cuidado porque daqui por mais um mês ou isso, a continuar assim, de facto, teremos que tomar outras medidas e até, eventualmente, ponderar colocar só algumas horas de fornecimento de água porque, de facto, as nascentes estão a reduzir drasticamente”, salientou Fernando Queiroga.
E, sem chuva à vista, o presidente mostrou-se muito preocupado com a situação neste concelho agrícola.
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