“É evidente que vamos ter de começar a perceber que estas mudanças têm de ser acompanhadas de políticas públicas. Não é o agricultor que vai deixar de plantar o abacate, se o abacate for mais rentável. Ou há aqui a consciencialização de que não é um ano de azar, mas sim uma tendência longa, ou então, na verdade, andamo-nos a iludir”, afirmou Eduardo Vítor Rodrigues, em declarações à Lusa.

Salientando que as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para as próximas semanas são preocupantes, o autarca que lidera também a Câmara de Vila Nova de Gaia, considera que é preciso lançar as bases para uma discussão antes mesmo que o problema se ponha, papel que os municípios devem assumir desde já.

De acordo com as previsões meteorológicas, nas próximas semanas, a seca irá continuar, numa altura em que as barragens já estão em estado de alerta com escassez de água.

Alentejo, Algarve e Nordeste Transmontano são, segundo IPMA, as regiões mais afetadas pela situação de seca moderada que o país atravessa.

“Temos que conseguir antecipar problemas e começar a consciencializar as pessoas para que, depois, e já com os factos consumados, não seja o 'aqui-d'el-rei' que temos de consumir menos. É um processo que tem de ser gradual”, defendeu Eduardo Vítor Rodrigues.

O líder metropolitano reconhece, contudo, que neste momento a situação de seca moderada em território nacional não é ainda um problema que tenha sido colocado pelos municípios.

“Somos particularmente portugueses, achamos que os problemas são dramáticos quando estão a acontecer, mas não fizemos nada para os atalhar”, lamentou, antecipando que o objetivo é partir da AMP para a discussão desta problemática.

O autarca que tem vindo a acompanhar a evolução da situação de seca em Portugal, garantiu, porém, que “do ponto de vista do abastecimento público não há riscos”, ainda que admita que o aumento da pressão do consumo possa obrigar a tomar outras medidas, como “ir mais fundo nos leitos onde se faz a recolha de água”.

Perante este cenário, em Gaia, o autarca adiantou que a rega de jardins está já ser feita com recurso a águas residuais tratadas, estando o município a preparar-se para no verão substituir a rega automática pelo abastecimento por cisterna.

Questionado sobre a situação na Barragem de Crestuma - Lever, localizada no concelho de Vila Nova de Gaia, a única na área da AMP, o autarca avançou que, segundo a informação de que dispõe, as quotas estão normais para esta altura do ano, a situação, que admite, que possa mudar.

“O problema é que Crestuma - Lever vem sendo vítima do que se passa no Lindoso, no Cabril e a certa altura a situação torna-se generalizada”, afirmou.

Segundo o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), 13 das 60 albufeiras monitorizadas tinham, no final de dezembro, disponibilidades hídricas inferiores a 40% do volume total, enquanto sete apresentavam valores superiores a 80%.

As bacias do Barlavento algarvio (com 14,3%) e do Lima (com 22,2%) são as que apresentavam menor quantidade de água armazenada, seguindo-se as do Sado (41,6%), Mira (41,9%), Cávado (47,3%), Ave (52,8%), Arade (54,4%) e Tejo (56,6%).

Já as bacias do Douro (57,1%), Oeste (62,9), Mondego (66,5%) e Guadiana (76,1%) tinham os níveis mais altos de armazenamento.

Na quarta-feira, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou que, face à seca, toda a atividade de inverno está comprometida, destacando que a pecuária está a entrar em situação de “gravidade extrema”, pedindo a intervenção do Governo.

Em declarações à Lusa, o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, referiu que a seca que começou por afetar a região Sul, neste momento, já afeta praticamente todo o território.

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