Fazem no sábado dois anos que o Espaço Âncora, uma iniciativa da Associação Crescer, abriu portas na Rua Passos Manuel, em Lisboa, para apoiar os mais vulneráveis.
Ali são recebidos “com dignidade” por vários técnicos especializados, que lhes proporcionam um sítio seguro e digno, onde podem não só relaxar, conviver e tratar da sua higiene, como também participar numa série de atividades diárias com vista à sua inclusão.
Hoje, a casa abriu as portas à comunidade e vários beneficiários quiseram dar o seu testemunho sobre este espaço que passou a ocupar um lugar de destaque nas suas vidas
“Há dias que chego aqui completamente destroçada e ter pessoas que estão dispostas a ouvir é muito importante, porque não consigo encontrar isto lá fora”, conta Edna, uma jovem que vive num centro de acolhimento em Lisboa.
Edna, com cerca de 20 anos, lamentou a maneira como a sociedade olha para os sem-abrigo: “Tratam-nos como lixo, como se fossemos uma coisa. Quando estamos mesmo em baixo precisamos de falar com alguém e ninguém nos ouve”.
“Aqui é o nosso refúgio, onde encontramos sempre carinho e onde temos aquilo que nunca tivemos. Aqui posso dizer que sou gente”, diz com a voz embargada.
Pedro (nome fictício), 43 anos, dormiu durante vários nas ruas da praça da Figueira, em Lisboa. Passou por vários albergues, comunidades terapêuticas, para tratar o vício do álcool, mas nada resultou.
Tudo mudou há três meses quando a associação Crescer lhe deu uma casa no bairro do Olivais. “Comecei uma vida nova e já não bebo desde a Páscoa”, disse Pedro, com orgulho.
“A casa foi o passo fundamental para mudar. Agora tenho uma morada, uma casa própria”, disse à Lusa, contando que o próximo passo é arranjar um emprego.
Pedro conheceu o Espaço Âncora através da equipa de rua que o acompanhava. “Venho todos os dias para me afastar dos amigos do “cartão do vinho”, desabafou.
Confessou ainda que na rua é difícil fazer amizades, mas conta que encontrou “um amigo para a vida”, o Jacinto, de 60 anos.
Viveram vários anos na praça da Figueira e partilharam vários problemas. Atualmente, Jacinto vive num albergue e encontra-se todos os dias com o amigo no Espaço Âncora.
“Se pudesse levava o Jacinto para morar comigo, mas não pode ser”, desabafou Pedro, contando que o convida muitas vezes para almoçar.
O Espaço Âncora também tem sido um apoio importante para as pessoas que vivem nos vários albergues da cidade, segundo o diretor da Associação Crescer, Américo Nave.
“Na maioria dos albergues, as pessoas têm de sair às nove da manhã e só podem regressar às 18:00”, o que faz com que fiquem sem atividades durante o dia e sem saber para onde ir, explicou.
“Estes espaços são importantíssimos para as pessoas se sentirem ocupadas”, mas principalmente para poderem “socializar e conviver e eles fazem parte do próprio espaço”, rematou Américo Nave.
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