“Este furacão está a ser seguido com imagens de satélite e modelos meteorológicos que fazem a previsão. O Centro de Miami, que é o responsável por este tipo de fenómeno no Atlântico Norte, tem os seus próprios modelos. Em conjunto com os nossos modelos e os deles, é feito esse acompanhamento. Um acompanhamento mais próximo do local é feito com imagens de satélite”, adianta à Lusa a meteorologista Vanda Costa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

A cientista explica que um satélite dá “uma fotografia do alto da atmosfera para baixo, para a superfície terrestre”, de onde é possível “retirar muita informação”. Já um radar “trabalha da terra para a altitude” e tem um campo de ação “muito mais pequeno”, mas “consegue detetar partículas que o satélite não consegue”, servindo para uma previsão a curto prazo.

Os Açores eram, até 2016, servidos por um único radar, no Pico de Santa Bárbara, na ilha Terceira, que era propriedade do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, mas foi desativado na sequência do processo de redução da base militar norte-americana nas Lajes.

Atualmente, não há nenhum radar meteorológico operacional na região, mas a instalação desta estrutura no Pico de Santa Bárbara está prevista para este ano, e está planeada, também, a construção de um radar no Pico da Barrosa, em São Miguel.

Em junho, Jorge Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), salientou que “os Açores precisam de três radares e que o radar das Flores – que é, muitas vezes, pouco discutido – é um elemento fundamental da rede, porque a maioria das tempestades mais gravosas que atingem as ilhas viriam a ser primeiramente detetadas no radar das Flores”.

Questionada sobre se estes equipamentos fazem falta à operação do IPMA na região, Vanda Costa responde que “sim, sem dúvida” e concretiza: “Uma das situações que temos aqui nos Açores, e a nível mundial, é a previsão da precipitação intensa. É difícil de se prever, não só aqui nos Açores, é um problema mundial, e um radar vem ajudar, não na previsão a longo prazo, ou seja, de dois ou três dias, mas sim de uma ou duas horas”.

A meteorologista ressalva, no entanto, que este instrumento traria mais precisão às previsões, mas a sua ausência não compromete o trabalho do instituto.

Além dos radares, há, no arquipélago, uma carência de estações meteorológicas. Nas duas ilhas do arquipélago da Madeira, o IPMA tem 16 estações, sendo que 15 ficam na ilha da Madeira e uma no Porto Santo. Pelas nove ilhas dos Açores, estão distribuídas apenas 11.

Estas estações são essenciais para a observação dos fenómenos meteorológicos, explica Vanda Costa, que, sem adiantar um número preciso, afirma que, “de uma forma geral, a rede terá de ser reforçada no arquipélago todo”.

“Quanto maior for a ilha, maior a necessidade de ter estações. Em todas as costas ter uma estação, era importante, pelo menos”, indica a meteorologista, apontando o protocolo para intercâmbio de dados meteorológicos, celebrado entre o IPMA e o Governo Regional dos Açores, que permite um melhor acompanhamento dos fenómenos.

Ainda assim, a cientista acautela que “a meteorologia é uma ciência exata, mas de muita incerteza. Há situações que, mesmo com os melhores meios, não podem ser asseguradas”.

“Apesar de termos evoluído muito, estamos a falar de cálculos e aproximações. É muito difícil transformar a natureza em equações matemáticas. Isso acontece em qualquer lado”, garante.

O número de ocorrências nos Açores devido ao furacão “Lorenzo” aumentou para 82, estando 41 resolvidas e 41 em curso, segundo uma nota divulgada pelo Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros do arquipélago.

“Destas 82 ocorrências, 30 foram registadas na ilha do Faial, 16 na ilha das Flores, 12 na ilha de São Jorge, quatro na ilha Terceira, 13 na ilha do Pico, duas no Corvo e três na Graciosa, estando relacionadas, sobretudo, com obstruções de vias, danos em habitações, quedas de árvores e inundações e galgamentos costeiros”, avançou a Proteção Civil açoriana.

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