Os militares russos em missão vão ser proibidos de levar ‘smartphones’, ‘tablets’ ou computadores portáteis para as missões e de partilhar informação ou fotografias que estejam relacionadas com os seus serviços. Estas limitações fazem parte da nova legislação aprovada pelo parlamento russo, que tem como objetivo travar as fugas de informação.

A rolha, contudo, vai ainda mais longe e proíbe os militares ou qualquer outra pessoa convocada para manobras militares de falar com a comunicação social, explica o jornal espanhol ‘El País’.

As imagens publicadas pelos militares russos em redes sociais como o Instagram ou o Vkontakte, plataforma russa semelhante ao Facebook, bem como mensagens trocadas no Twitter e Facebook têm estado a ser usadas nos últimos anos como fonte para meios de investigação independentes e várias organizações ativistas seguirem as movimentações das forças armadas de Moscovo.

Para as autoridades russas, essa fuga de informação abriu fissuras na segurança. “Os militares têm um interesse particular para os serviços secretos de vários países, organizações terroristas e extremistas”, lê-se na nota que acompanha o projeto de lei, citada pelo jornal espanhol.

O comité de defesa, de onde as novas regras vêm, diz que “agentes externos” usam a informação publicada na internet pelos militares para analisar não apenas as atividades das forças armadas, mas também para avaliar a política de Moscovo.

A ideia não é nova e os militares russos já eram recomendados desde 2017 a não partilhar este tipo de informação nas redes sociais. Todavia, agora ganha o peso de lei e inclui mais variáveis — dados que permitam geolocalização de militares em campanha e mesmo, embora ainda faltando regulação posterior, a proibição do uso de aplicações de mensagens como o WhatsApp ou o Telegram.

A medida tem sido pouco criticada. Umas das vozes contra as novas regras é a de Ksenia Sobchak, ex-candidata nas presidenciais do ano passado e jornalista. Sobchak afirma que o objetivo é cobrir o que realmente se passa nas forças armadas. “É uma medida para que ninguém descubra as praxes, roubos e outras infrações, inclusive de direitos humanos, que ocorrer no Exército”, disse num blogue.

O uso que os militares russos fazem das redes sociais já deu dores de cabeça a Moscovo. Em 2015, foi possível saber da preparação a grande escala da operação russa na Síria algumas semanas antes de começar. E também, ainda que o Kremlin o tenha sempre negado, permitiu saber da presença de militares russos em Donbás, na Ucrânia.

Já em 2016, recorda também o ‘El País’, um grupo de investigação divulgou dados que, através de fotografias dos militares, permitia saber o percurso do míssil que em 2014 fez cair um avião da Malasian Airlines sobre a Ucrânia, provocando a morte de 298 pessoas.