Portugal junta-se pelo nono ano a esta iniciativa, organizada pela EuroTest, reforçando ser uma prioridade o rastreio do VIH, das hepatites virais e outras infeções sexualmente transmissíveis (IST), numa altura em que ainda permanecem lacunas no diagnóstico destas infeções, o que dificulta as estratégias internacionais para as eliminar até 2030, enquanto problema grave de saúde pública, refere o GAT.
Até 29 de novembro, será possível fazer rastreios “gratuitos, rápidos e anónimos” a estas doenças em 33 organizações distribuídas pelo país “desde o Algarve até ao Minho”, disse o diretor-executivo do GAT, Ricardo Fernandes, adiantando que os interessados podem encontrar informação sobre os locais na página do Facebook da Semana Europeia do Teste.
Para o GAT, o rastreio direcionado a grupos mais vulneráveis, no contexto da prevenção combinada, é um serviço prioritário.
“Nós temos uma estratégia de contenção da epidemia que passa pelo teste e pelo diagnóstico e por todas as tecnologias de prevenção, o preservativo, a PrEP [profilaxia pré exposição] (…) ferramentas que têm que ser estrategicamente bem posicionadas para que consigamos chegar a uma situação em que o VIH deixe de ser um problema de saúde pública em Portugal”, defendeu Ricardo Fernandes.
O problema, avisou, é que se não houver investimento nestas ferramentas tudo o que for feito terá “um impacto individual - e ainda bem que o tem - mas não a nível de saúde pública”.
Apesar de algumas limitações devido à pandemia de Covid-19, as organizações que trabalham na área da saúde pública continuam a proporcionar o rastreio às IST, consultas médicas e de enfermagem, referenciação e ligação a cuidados de saúde, distribuição de preservativos e gel lubrificante, materiais para consumo mais seguro e programas de substituição opiácea.
As organizações, membro da Rede de Rastreio Comunitária, promovida pelo GAT, que se juntam à iniciativa destacam a importância da manutenção destes serviços e a remoção de qualquer barreira no acesso a cuidados de saúde.
A Semana Europeia do Teste, considerou Ricardo Fernandes, “é uma oportunidade muito grande” de conseguir chegar às pessoas, muitas delas já fragilizadas, e oferecer-lhes o teste e, caso seja reativo, encaminhá-las para tratamento.
O responsável observou que, antes da pandemia, toda a Europa já tinha “números muito altos” de infeção, estimando-se que uma em cada cinco pessoas desconhecesse que estava infetado, e que em alguns países as pessoas não tiveram oportunidade de fazer o rastreio durante a pandemia.
Em Portugal, ainda há entre 5% a 10% de pessoas por identificar, que são aquelas a quem todas as estratégias desenvolvidas não chegaram.
“Temos de continuar a trabalhar para chegar a essas pessoas porque a dinâmica da infeção é uma dinâmica em que uma pessoa pode infetar várias e, portanto, se conseguirmos alcançar essas pessoas atempadamente, evitaremos infeções”, defendeu.
Quarenta anos depois do VIH ter começado a ser diagnosticado, as pessoas ainda têm “uma noção devastadora desta doença”, mas é uma “noção errada” porque já é uma patologia com bom prognóstico ao contrário do que acontecia há alguns anos.
Por outro lado, não têm noção da gravidade da doença, pensando que já passou, quando “Portugal é um país cimeiro” na incidência do VIH na Europa Ocidental, alternando de posição com a Letónia.
Apesar de haver uma “tendência muito pequena, mas interessante na descida [do número de novos casos], não é suficiente ainda para aquilo que é a dimensão da infeção em Portugal e o peso que tem do ponto de vista social, orçamental e para a sociedade”.
Segundo o relatório “Infeção VIH e SIDA em Portugal – 2020”, foram diagnosticados 778 novos casos de infeção em 2019, menos 331 face a 2018.
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