“Vergonha, uma vergonha para nós”, disse em entrevista à Lusa o cientista, que participou em Lisboa numa sessão sobre “A Década das Nações Unidas das Ciências do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável 2021-2030 – Dos desafios às ações”, que reuniu na Academia das Ciências de Lisboa, especialistas nacionais e internacionais debateram as ciências dos oceanos e o desenvolvimento sustentável.
Porque quase oito mil milhões de pessoas têm um impacto no meio ambiente, o que tem mudado a vida das pessoas de geração em geração, “há que ter a certeza de que hoje fazemos o necessário para garantir que haja um oceano saudável, uma vida oceânica robusta, que cuidamos dessa componente do planeta que é vital para nós” afirmou Craig McLean.
E o que é preciso fazer agora? O cientista-chefe da NOAA responde: “Não temos um mapa real dos oceanos. Há uma interpretação de um mapa dos oceanos, mas não há um mapa legítimo, que mostre todas as características e caracterização do que está por baixo da superfície das águas”.
“Podemos construir um (mapa), mas nenhuma nação pode fazer isso sozinha”, afirma, explicando que se as pessoas trabalharam juntas para fazer a observação do clima e fazer previsões, também o têm de fazer para observar os oceanos e fazer previsões desses oceanos.
Os cientistas, diz McLean, estão conscientes das mudanças nos mares devido às alterações climáticas, e só entendendo bem os oceanos podem fazer alguma coisa para deter ou tornar mais lento esse impacto.
E precisamente por, como cientista, estar consciente das mudanças nos oceanos provocadas pela “carga humana”, McLean admite que “é assustadora” a forma como está a mudar o mundo, onde já não se pode confiar em “padrões climáticos históricos”.
É por isso, porque “o mundo está a mudar e há uma causa” (o homem), que é preciso trabalhar para aumentar a precisão de modelos.
E se o cientista não tem dúvidas de que um único evento “não constitui necessariamente a prova definitiva das mudanças climáticas”, também não as tem de que o “impacto humano é notável” e está a mudar o clima, com cada ano que passa a ser o mais quente de sempre.
“Percebendo as causas percebemos que devemos mudar a maneira como vivemos hoje”, e que temos que estar “mais conscientes disso, como indivíduos e como nações”.
McLean é ainda assim um otimista confesso. Diz que está ansioso pela Conferência dos Oceanos marcada para junho em Lisboa, considerando que será “uma oportunidade muito importante” e acrescenta que dado o nível de interesse no mundo pelas questões relacionadas com o mar “este é o momento dos oceanos”.
“Estou otimista porque tenho fé no espírito humano e no intelecto humano para encontrar soluções para problemas desafiadores”, afirma.
Basicamente, acrescenta, todas as nações e pessoas do mundo reconhecem que é preciso mudar a forma de interagir com os oceanos, seja para evitar a acidez que compromete os corais, seja para evitar o plástico ou a pesca ilegal.
“Temos o hábito de viver a vida com a qual nos acostumamos e estamos num momento em que precisamos de fazer mudanças deliberadas nesse estilo de vida”, diz, advogando que a solução não passa por reduzir a pegada ecológica, mas procurar “uma maneira de fornecer os mesmos bens para as pessoas do mundo mas sem custo ambiental”.
E conclui: “acredito que nós, como seres humanos, como administradores do resto da vida animal e vegetal do mundo, de todo o ecossistema, faremos boas escolhas e faremos essas escolhas com base na ciência sólida que a nossa comunidade científica global é capaz de gerar”.
McLean acredita também que a adaptação às alterações climáticas será acompanhada por “soluções científicas” e é da comunidade científica que fala quando questionado sobre como é fazer ciência num país onde o Presidente, Donald Trump, é um cético das alterações climáticas.
“Temos nos Estados Unidos um programa científico muito robusto, por meio de diversas agências, como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a ´National Science Foundation´, a NASA e muitas outras agências. Recebemos financiamento do nosso Congresso, que nos fornece os recursos necessários para realizar os trabalhos que nos pede para produzir. E conseguimos produzir a nossa avaliação climática nacional periódica”, explica.
Em resumo, a informação que os cientistas produzem está disponível para o público e para os decisores políticos e o cientista não valoriza quando “ocasionalmente” alguém da esfera política “tenta desafiar a ciência” na procura de “um resultado político específico”.
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