Em declarações à BFM TV, o ministro da Justiça de França, Éric Dupond-Moretti deixou clara a mensagem sobre a atuação das autoridades face à publicação e partilha de conteúdos de incentivo à violência nas ruas através das redes sociais: "Se partilharem coisas no Snapchat, a conta será cancelada, vocês serão encontrados e punidos", afirmou.

O ministro da Justiça considera que esta rede social se tornou "um vetor" na multiplicação da violência após a morte de Nahel, o jovem de 17 anos morto por um polícia em 27 de junho.

"Peço ao procurador da República que solicite às operadoras como o Snapchat, que são os intermediários entre os jovens, facilitando a troca de informações sobre o local de encontro, na realidade, o local dos futuros atos de violência".  Éric Dupond-Moretti lembrou que as autoridades podem descobrir a identidade dos utilizadores que partilham vídeos nas redes sociais, especialmente através de ordens judiciais direcionadas aos operadores de plataformas.

"Desejo que todos esses jovens saibam que, por meio de uma ordem judicial, podemos perfeitamente encontrar o endereço IP deles e, é claro, a sua identidade. [...] Desejo que não haja impunidade e que os jovens percebam que não podem se esconder atrás do telefone para evitar serem processados", sublinhou o ministro.

Apesar destas declarações, não é linear que as solicitações das autoridades francesas sejam respeitadas. Tal como o TikTok, que também está envolvido na disseminação de vídeos dos tumultos, o Snapchat está sediado no exterior (no Reino Unido para os utilizadores franceses), não estando obrigada a cumprir as diretrizes das autoridades francesas.

Uma discussão sobre racismo

A morte de Nahel, cuja família é originária da Argélia, agitou o debate sobre a violência policial na França. Em 2022, 13 pessoas morreram em circunstâncias parecidas no país, episódios que geraram críticas às autoridades, percecionadas em várias ocasiões como racistas por parte da população.

O Governo francês decidiu suspender todos os grandes eventos e organizou uma nova reunião do gabinete de crise para estudar os próximos passos a dar, segundo informou o gabinete do primeiro-ministro. Além disso, os ministros foram convidados a permanecer em Paris durante o fim de semana.

A ONU pediu às autoridades francesas que abordem seriamente os "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" nas forças de segurança, acusações que o Ministério das Relações Exteriores descreveu como "totalmente infundadas".

Mounia, a mãe da vítima, disse ao canal France 5 que não culpa a polícia, mas apenas o polícia que tirou a vida de seu filho.

A Justiça decretou prisão preventiva por homicídio doloso para o agente de 38 anos, autor do disparo que, segundo o advogado, pediu "perdão à família" de Nahel.

Numa tentativa de apaziguar a situação, a seleção francesa de futebol, liderada por Kylian Mbappé, afirmou em comunicado que "o tempo da violência tem de parar" e dar lugar a "maneiras pacíficas e construtivas de se expressar". "Desde este trágico evento, assistimos à expressão de uma raiva popular que compreendemos, na essência, mas que não podemos aceitar na forma", escreveram os jogadores.

Os distúrbios levantaram preocupação noutros países, já que França sediará o campeonato do mundo de râguebi no próximo outono e os Jogos Olímpicos no verão de 2024 . Vários países europeus, como Reino Unido, Alemanha e Noruega, alertaram os seus cidadãos em França para evitar zonas de tumulto e reforçar a cautela.

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