“[O Presidente russo, Vladimir] Putin provavelmente reviu em baixa os seus objetivos imediatos [desde que ordenou a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado], enquanto procura consolidar o controlo de territórios ocupados no leste e no sul da Ucrânia e assegurar-se de que a Ucrânia nunca se tornará aliada da NATO”, disse a responsável, numa audição perante uma comissão do Congresso norte-americano.
Mas, acrescentou Haines, qualquer que seja o resultado de uma futura contraofensiva ucraniana — quer recupere parte do leste e do sul ocupados, quer se mantenha o atual impasse -, é pouco provável que Putin faça cedências no sentido da realização de negociações de paz.
Kiev garante que os seus preparativos para uma contraofensiva em grande escala destinada a reconquistar os territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul do país “estão quase concluídos”.
Neste momento, a Rússia ocupa quase 20% da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, que anexou em 2014.
“O desafio que se coloca é que, mesmo que Putin provavelmente reveja os seus objetivos a curto prazo, a perspetiva de concessões russas para avançar para negociações este ano parece fraca, a menos que uma fragilidade política interna o faça mudar de ideias”, observou a alta responsável.
Avril Haines insistiu em especial no estado de degradação do exército russo, que tem carências “significativas” de munições e de efetivos, o que impede Moscovo de lançar qualquer ofensiva na Ucrânia.
As suas perdas são de uma dimensão tal, estimou, que serão necessários “anos para reconstruir” o exército.
“Nós continuamos a ser da opinião de que Putin com certeza pensou que tem o tempo a seu favor e que prolongar a guerra lhe dá a melhor hipótese de proteger os interesses estratégicos da Rússia na Ucrânia”, sustentou.
A responsável dos serviços secretos nacionais dos Estados Unidos considerou ainda “muito improvável” que Putin recorra a armas nucleares neste conflito.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 435.º dia, 8.709 civis mortos e 14.666 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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