"Não se pode destruir um elemento patrimonial tão importante, do ponto de vista histórico, patrimonial, da cidade de Lisboa; é impossível aceitar uma coisa dessas, principalmente no âmbito de um projeto que o visa valorizar. É uma contradição absoluta e inaceitável", afirmou à agência Lusa a arqueóloga Jacinta Bugalhão, daquele sindicato.

Segundo a arqueóloga, o sindicato recebeu esta semana uma denúncia em como a DGPC tinha dado autorização para a desmontagem de estruturas referentes à antiga mesquita de Lisboa, no contexto do plano de reabilitação do claustro da Sé de Lisboa e musealização do seu espaço arqueológico.

Face à denúncia, Jacinta Bugalhão disse à Lusa que foi apresentado esta semana um pedido de esclarecimento, com caráter de urgência, à DGPC, do qual aguardam ainda resposta.

Aquelas estruturas e vestígios arqueológicos - de vários períodos, não só do islâmico - têm sido sucessivamente descobertos desde os anos 1990 e mais recentemente durante o projeto de reabilitação do claustro da Sé de Lisboa.

A arqueóloga, cuja área de investigação incide sobre o período islâmico, lamenta sobretudo "a falta de transparência do processo decisório" sobre o projeto.

Está também em curso uma petição pública dirigida ao presidente da Assembleia da República, que soma mais de 750 assinaturas, denunciando que a implementação do projeto na Sé de Lisboa implicará "que todos os compartimentos [da mesquita principal de Lisboa identificada na Sé Patriarcal] sejam destruídos com exceção de dois".

Os assinantes da petição querem que seja discutida e avaliada "uma alternativa ao projeto arquitetónico, de modo a preservar todo o complexo", que está debaixo da Sé Patriarcal e que, segundo Jacinta Bugalhão, se estende por três pisos de profundidade ao longo da encosta onde está localizada.

A Igreja e o Estado assinaram um protocolo em 2010 - com uma adenda em 2015 - para a reabilitação do claustro da Sé de Lisboa e musealização do seu espaço arqueológico, num projeto assinado pelo arquiteto Adalberto Dias, orçado em cerca de cinco milhões de euros, com inclusão de fundos europeus.

Em 2015, quando foi assinada a adenda, numa sessão pública na Sé, a arqueóloga Alexandra Gaspar explicou que as escavações arqueológicas já realizadas no claustro revelaram vestígios neolíticos, fenícios, romanos, visigodos, islâmicos e medievais, abrangendo 2.700 anos.

A descoberta sucessiva de novos vestígios - nomeadamente relacionados com a antiga mesquita - e a demora nas respostas da DGPC ao trabalho arqueológico, têm levado ao adiamento da conclusão do projeto, como noticiou o jornal Público em dezembro de 2019.

A Sé de Lisboa é um dos mais antigos monumentos da arquitetura medieval de Lisboa e a sua construção foi iniciada imediatamente a seguir à conquista da cidade aos muçulmanos, em 1147.

A agência Lusa pediu mais esclarecimentos à DGPC, não tendo obtido resposta em tempo útil.