“Se for esta a versão que é aprovada, é inconstitucional, porque há aqui ultrapassagens de toda a ordem. Conseguiram [o Governo] reconhecer isso. Há professores que nunca terão uma recuperação e há professores que serão ultrapassados. Os seis mil professores que progrediram em 2018 para o 9.º escalão vão ser ultrapassados por todos os professores que em 2019 progridam para o 9.º escalão, que vão chegar mais cedo ao 10.º. Isso é inconstitucional”, disse hoje o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira.
Para o líder sindical, o parlamento, “no seu papel de fiscalização do Governo, não pode deixar de suscitar a fiscalização da constitucionalidade e de não considerar ilegal uma lei que não respeita a lei do Orçamento do Estado” (OE) para 2018.
O sindicalista, que falava em nome da plataforma que junta dez estruturas sindicais nas negociações com o Governo para a recuperação integral do tempo de serviço congelado, que hoje teve uma reunião de negociação suplementar no Ministério da Educação, apontou este exemplo de ultrapassagens na contagem do tempo de serviço que a proposta do executivo pode vir a permitir para defender a inconstitucionalidade do projeto de decreto-lei.
Mário Nogueira disse que a aprovação deste diploma, que apenas prevê a contagem de dois anos, nove meses e 18 dias de tempo de serviço congelado, dos mais de nove anos que os professores reivindicam e dos quais não abdicam, pode levar a que o Governo viole a lei OE para 2018, com os sindicatos a insistir que o que o orçamento prevê é apenas a negociação do prazo e modo de recuperação do tempo congelado, não a negociação do tempo a recuperar.
“Estamos a negociar com um Governo que está fora da lei. Os partidos na Assembleia da República que fiscalizam a ação do Governo sabem que o Governo tem uma lei para cumprir e não cumpriu, penso que vão ter que tomar posição e fazer alguma coisa”, disse Mário Nogueira.
O líder da Fenprof dirigiu o seu discurso especialmente para os partidos de esquerda que suportam no parlamento o executivo socialista, que Mário Nogueira insistiu em sublinhar que é “um Governo minoritário”.
“Iremos falar com todos, do CDS-PP até ao Bloco de Esquerda. Evidentemente que iremos confrontar […] os partidos que votaram favoravelmente o OE. […] Parece-nos a nós que a negociação que é feita com o Governo por estes partidos é uma negociação que vai fazer uma avaliação do que se fez em 2018, senão, que diabo... Ou seja: se estes partidos chegarem à conclusão que negociaram com o Governo e agora ele não cumpre, que confiança podem eles ter para negociar para 2019?”, questionou Mário Nogueira.
“Os professores sabem que nesta matéria o Governo minoritário do Partido Socialista não tem a faca e o queijo na mão. Os professores sabem que este Governo minoritário do PS pode passar o tempo a dizer que não faz parte do seu programa recuperar o tempo de serviço, mas o problema é que não tem maioria absoluta. Este Governo tem que assumir e cumprir os compromissos a que com outros chega, senão pode não poder continuar” acrescentou o sindicalista.
Mário Nogueira, mas também João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), disseram à saída da reunião – que apenas contou com a presença da secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, em representação do Governo, que o encontro de hoje, o último deste processo negocial, foi “uma vergonha”, “um logro”, considerando o líder da FNE “inacreditável que o Governo persista inflexivelmente numa posição sem ter em linha de conta outras propostas em cima da mesa”.
Dias da Silva foi categórico: “Não negociaremos o incumprimento da lei”.
Ambos apontam agora para a próxima semana, para a qual estão previstas uma greve de quatro dias, com incidência regional em cada um deles, e uma manifestação nacional de professores a 05 de outubro, em Lisboa, contando mostrar na rua "a revolta" dos docentes.
“Vamos para a rua com a confiança reforçada de que a razão está do lado dos professores”, disse Mário Nogueira.
A luta vai fazer-se também nos tribunais, reiterou Mário Nogueira, que adiantou ainda que os sindicatos vão fazer chegar uma queixa a órgãos europeus comunitários de sindicatos, pretendendo fazer o mesmo para a Organização Internacional do Trabalho.
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