Os sindicatos dos trabalhadores salientaram esta segunda-feira que contaram com 2,3 milhões de manifestantes por toda a França, incluindo 550 mil na capital, Paris. O governo diz que os números foram inferiores, mas a verdade é que o Dia do Trabalhador foi vivido pelos manifestantes na capital francesa com determinação, não só face ao Presidente Emmanuel Macron, mas também devido à chuva que se abateu sobre o cortejo, no qual foram registados vários incidentes com detenções e feridos.
“A grande questão é saber até quando isto vai durar. Acho que vamos saber rapidamente porque Laurent Berger [líder da CFDT] disse estar pronto a discutir com Elisabeth Borne [a primeira-ministra] e isso é um problema para nós. Enquanto a reforma do sistema de pensões não for retirada, não vale a pena falar do que quer que seja”, afirmou Christophe, sindicalista da CGT, em declarações à Agência Lusa durante a manifestação desta tarde.
Este é o primeiro Dia do Trabalhador em França desde 2009 em que as principais centrais sindicais desfilaram juntas num cortejo organizado entre a Praça da República e Nation, na margem direita do rio da capital francesa. Tanto a CGT como a CFDT apelaram a uma greve geral nesta segunda-feira, mas o entendimento entre estes dois sindicatos pode estar em perigo, agora que Emmanuel Macron e o Governo abriram uma via de diálogo após a aprovação da reforma do sistema de pensões, a 15 de abril.
Laurent Berger veio dizer hoje que a unidade sindical “não é uma mentira” e é para continuar, avisando que a CFDT vai reunir-se com o Governo sobre melhores condições de vida e trabalho dos franceses, nomeadamente um possível aumento do salário mínimo.
“Estamos desiludidos, mas queremos mostrar que estamos mobilizados. Foi uma grande deceção não termos sido ouvidos não só sobre a reforma do sistema de pensões em si, mas as possíveis alternativas. Cabe agora ao Governo mostrar alguma abertura e voltar a dar provas de confiança aos parceiros sociais”, disse Marion, funcionária pública que pertence à CFDT.
Já a CGT, afirmou que só vai decidir sobre o apelo ao diálogo do Governo depois da mobilização de hoje, que para muito é considerada como “histórica” com milhares de pessoas a inundarem as ruas de Paris, mas também Lyon, Rennes ou Marselha. Este é também um momento histórico, porque é a primeira celebração do Dia do Trabalhador com Sophie Binet à frente da CGT.
“Eu estou muito contente, é uma excelente surpresa para mim e para muitos camaradas. É uma mulher e isso é muito importante. Ela é uma pessoa muito mais aberta do que Philippe Martinez. Ela é próxima dos trabalhadores e ouve o que temos a dizer. Tem um discurso mais claro e fácil de compreender. É uma grande felicidade para nós”, afirmou Christophe, o sindicalista da CGT.
Mesmo se a mobilização dos trabalhadores franceses, que já dura há mais de quatro meses, não travou a reforma do sistema de pensões, os efeitos na perceção dos sindicatos e de alguns movimentos políticos não deixam dúvidas sobre a posição dos gauleses face às decisões do Presidente.
“Tem havido muitas adesões aos Jovens Comunistas tal como nos sindicatos, com muita gente que se sindicalizou recentemente. Sinto que há verdadeiramente uma vontade de mostrar que os trabalhadores não se vão deixar abater e que querem dar um sentido à sua vida e isso passa pela resistência”, contou Guillaume, professore universitário e membro dos Jovens Comunistas.
O cortejo desta segunda-feira voltou a registar incidentes violentos entre polícias e manifestantes, com vários estragos nas ruas e lojas de Paris, mas também em Lyon ou Nantes. Para esta manifestação foram destacados 12 mil polícias para vários locais do pais já que era previsível que seria um protesto que atrairia elementos violentos organizados vindos um pouco de toda a Europa.
De forma a manter os protestos fora das manifestações e dias de greve geral, a CGT organiza junto dos diferentes setores outras formas de protesto para mostrar o desagrado sobre o aumento da idade da reforma para 64 anos, nomeadamente os cortes de eletricidade direcionados a grandes eventos ou edifícios do Estado. Esta é uma iniciativa apoiada por Christophe, trabalhador da EDF, a maior empresa de energia em França.
“A nível nacional a CGT está a orientar-se para outros meios de luta, menos pela via das manifestações, mas mais direcionado em cada setor e em cada região e isso é algo positivo. Não vamos desistir”, concluiu.
*Com Lusa
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