"Renovo o meu sincero apelo às partes em conflito para que demonstrem boa vontade, para que se abra um raio de esperança à população exausta" pela guerra, pediu o Papa após a tradicional oração de domingo na Praça de São Pedro, no Vaticano.
O Papa Francisco apelou ainda para "um compromisso construtivo, decisivo e renovado de solidariedade da comunidade internacional para que, uma vez que as armas sejam depostas, se reconstrua o tecido social e se inicie a reconstrução e a recuperação económica".
O santo Pontífice lamentou que de uma década de "conflito sangrento na Síria" tenha resultado um "dos maiores desastres humanitários dos últimos tempos", com "um número indeterminado de mortos e feridos, milhões de refugiados, milhares de desaparecidos, destruição, violência de todo o tipo, sofrimento desumano para toda a população, em particular para os mais vulneráveis, como crianças, mulheres e idosos".
A guerra na Síria, que entra agora no seu décimo primeiro ano de conflito, causou pelo menos 388.652 mortos, segundo uma estimativa do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
O Papa Francisco, que acaba de fazer uma visita histórica ao Iraque, não tem a intenção de visitar a Síria, mas com regularidade tem vindo a pedir um cessar-fogo naquele país "martirizado".
Entretanto, e também hoje, a União Europeia defendeu uma solução política para a guerra na Síria, mostrando-se disponível para apoiar eleições livres no país sob supervisão das Nações Unidas (ONU), quando se cumprem 10 anos desde o início do conflito armado.
"Não pode haver uma solução militar para este conflito: a paz e a estabilidade sustentáveis só podem ser alcançadas com uma solução política autêntica, inclusiva e abrangente, liderada pela Síria", disse o Alto Representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Josep Borrell, numa declaração escrita em nome dos 27 países, por ocasião do 10.º aniversário do conflito sírio.
Nos últimos dez anos, lembrou Borrell, houve "inúmeros abusos e violações dos direitos humanos", por todas as partes, no conflito e, "particularmente o regime sírio, causou enorme sofrimento humano".
A responsabilização das partes por estas violações é "da maior importância", tanto legalmente, como para alcançar a paz e a "reconciliação genuína" na Síria, afirmou a UE na declaração.
Com o conflito "longe do fim", a UE apelou ao fim da repressão, à libertação dos detidos e ao envolvimento do regime sírio e dos seus aliados na implementação da Resolução 2.254 do Conselho de Segurança da ONU, que defende uma solução política através do diálogo entre as partes em conflito.
Enquanto a repressão continuar e "progressos credíveis" não forem feitos, as sanções que a UE tem em vigor contra membros e entidades do regime "serão renovadas no final de maio", disse Josep Borrell.
O bloco europeu "continua comprometido com a unidade, soberania e a integridade territorial do Estado sírio", insistiu.
A UE, continuou, "estaria preparada para apoiar eleições livres e justas na Síria", supervisionadas pela ONU e de acordo com as resoluções das Nações Unidas, que cumpram "os mais elevados padrões nacionais de transparência e de responsabilidade" e nas quais "todos os sírios, incluindo membros da diáspora”, possam participar.
Eleições organizadas pelo regime, como as eleições parlamentares do ano passado, que não cumpram estes critérios "não contribuem para a solução do conflito, nem conduzem a qualquer medida de normalidade internacional em relação ao regime sírio", acrescentou.
A UE lembrou que a guerra gerou a maior crise de deslocados no mundo, com 5,6 milhões de refugiados registados e 6,2 milhões de deslocados na Síria, sem que estejam cumpridas as condições para o seu regresso seguro e voluntário.
Também teve um impacto na região e "alimentou organizações terroristas", acrescentou a UE no comunicado, exortando todos os intervenientes no conflito na Síria a "concentrarem-se na luta” contra o grupo terrorista Daesh.
A UE vai organizar em Bruxelas nos dias 29 e 30 de março, com as Nações Unidas, uma conferência de doadores para a Síria, com o objetivo de recolher doações para responder às necessidades humanitárias do país.
A organização europeia e os seus Estados membros doaram até agora 24 mil milhões de euros para este fim.
Os protestos pacíficos contra o Governo de Bashar al-Assad, que começaram em 15 de março de 2011, levaram a uma guerra entre o regime do presidente sírio e os grupos rebeldes da oposição que provocou quase 500.000 mortos em dez anos.
Comentários