"A ideia de que o país não tem aqui um trabalho a fazer para se ligar à rede de alta velocidade europeia, a ideia que a rede de alta velocidade em bitola europeia vai parar em Badajoz, com o país propositadamente atrasado e por uma decisão política que nos condena ao atraso, é das ideias mais reacionárias que eu tenho visto a desenvolver no nosso país", afirmou José Sócrates, durante uma conferência na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).
"E quando digo reacionária é mesmo isso, é porque elas não permitem um pouco mais de ambição, é a ideia de resignação, [do] sim, devemos aceitar tudo isto e não devemos escolher ninguém que tenha um pouco mais de visão para a modernização e para o crescimento económico português", criticou o antigo primeiro-ministro.
Dirigindo-se à plateia de mais de 300 alunos universitários, no período de perguntas e respostas de uma conferência sob o tema "O projeto europeu depois da crise económica", promovida pelo núcleo de estudantes da FEUC, José Sócrates lembrou que há 20 ou 30 anos a duração de uma viagem de comboio entre Lisboa e Porto era de cerca de três horas e hoje a mesma viagem demora duas horas e cinquenta minutos.
"E o que estão a dizer-vos é que nos próximos 30 anos, porque não se faz nada para isso, se vão demorar duas horas e cinquenta", enfatizou.
Na ocasião, defendeu ainda que o que Portugal e a Europa "há muito precisam é de um projeto de desenvolvimento, um projeto de modernização, um projeto de crescimento económico".
No final da sessão, confrontado pela agência Lusa sobre a questão do abandono do projeto do TGV e a referida falta de ambição dos decisores políticos, Sócrates reafirmou que Portugal "precisa de um projeto de desenvolvimento" que já teve, nomeadamente quando foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011.
"Esse projeto de desenvolvimento foi posto em causa por uma visão política que atribuía a esse investimento, a essa ambição, a essa modernização, primeiro, a ideia de desperdício e que isso era dinheiro deitado fora", sustentou José Sócrates.
"Isso é um erro, eu nunca partilhei desse ponto de vista. Acho que o país precisa de recuperar essa vontade, essa ambição, de investimento em algumas áreas críticas, como se fez no passado", declarou.
Apontou, nomeadamente, o investimento na ciência, ensino superior, educação e recuperação das escolas, energias alternativas e modernização de infraestruturas, na linha daquilo que disse durante a conferência de hoje, em que lembrou a atuação dos governos por si liderados e o projeto de desenvolvimento que possuía para o país.
"Pode soar a autoelogio mas das últimas vezes que ouviram falar de um projeto de modernização foi quando havia um Governo - e eu liderei esse Governo - que apostava nas energias renováveis, construção de barragens, modernização e reconstrução das escolas públicas portuguesas, quando apostámos em mais ciência e mais investimento para a ciência, nas tecnologias de informação, isso era um projeto de desenvolvimento", argumentou.
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