“Precisamos de uma voz mais forte do setor privado para destacar e reduzir os riscos e custos da fragmentação da cadeia de fornecimento global e regional impulsionada pela geopolítica”, afirmou o ministro coordenador dos Assuntos Económicos da Indonésia.

Airlangga Hartarto defendeu que “os setores público e privado precisam de cooperar, incluindo com parceiros e outras plataformas, para defender uma arquitetura aberta, inclusiva, não discriminatória e baseada em regras para o comércio e a economia”.

O governante falava à margem da 43ª. Cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que decorre hoje e amanhã em Jacarta, onde convergiram igualmente empresários dos vários países da organização regional, incluindo de Timor-Leste, que tem o estatuto de observador.

Hartarto recordou que a ASEAN é atualmente um dos principais motores económicos do mundo, o segundo maior destino de investimento estrangeiro direto, a quinta maior economia global e o quarto maior exportador.

O crescimento médio da economia da região rondou entre 4 e 5% na última década, com o PIB dos seus Estados membros a aumentar 5,7% no ano passado, o que a torna “um dos poucos pontos positivos para o crescimento económico” global, disse o ministro coordenador.

Hartarto disse que se devem fortalecer os laços entre associações empresariais da região e fomentar o apoio ao desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas.

“O setor privado da ASEAN precisa de aproveitar os seus recursos, redes, tecnologia e conhecimentos especializados para enfrentar os desafios socioeconómicos e as alterações climáticas na região. A inovação, a difusão da tecnologia e a adoção também precisam de ser apoiadas e aceleradas para melhorar a resiliência económica regional e o bem-estar das pessoas”, vincou.

O responsável indonésio disse que, de forma mais ampla, a região deve promover o desenvolvimento de todo o Indo-Pacífico, aspeto que vai discutido hoje no fórum paralelo ASEAN-Indo-Pacífico (AIPF).

“A Indonésia quer incentivar o desenvolvimento regional sustentável através do AIPF, que convidará à participação do setor público, privado e global em vários projetos na região que apoiam a infraestrutura verde e uma cadeia de fornecimento resiliente, a transformação digital e a economia criativa,  bem como o financiamento inovador e sustentável”, vincou Hartarto.

Unidade na ASEAN não significa ausência de diversidade de opiniões

O Presidente da Indonésia disse hoje que a unidade que caracteriza a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) se deve manter, mas que não implica uma ausência de diversidade de opiniões, essenciais para fortalecer as democracias.

"Como membro desta família e líder da ASEAN neste momento, quero enfatizar que a unidade da ASEAN continua a manter-se até hoje. Mas unidade não deve ser interpretada como ausência de diferenças de opinião", disse Joko Widodo, em Jacarta, na cerimónia de abertura da 43ª. cimeira da organização regional de 10 membros e onde Timor-Leste tem o estatuto de observador.

"Para um país com várias etnias, culturas, línguas e religiões, para a Indonésia a unidade é a harmonia das diferenças, incluindo diferenças de opinião. Porque as diferenças de opinião sempre alimentam a democracia", sublinhou.

Num curto discurso de boas-vindas aos delegados regionais, o chefe de Estado referiu-se às preocupações sobre a situação global e ao papel importante que a organização regional pode ter em prol da "paz, estabilidade e desenvolvimento".

"Estamos conscientes de que o mundo não está bem. Os desafios do futuro estão a tornar-se mais difíceis e resultarão numa luta por grande influência", vincou.

Apesar disso, central para o êxito da ASEAN, considerou Widodo, é manter o diálogo aberto com todos, sem servir de representante de nenhum dos grandes poderes e apostando na cooperação.

"Os desafios do futuro são cada vez mais difíceis e resultam na luta pela influência das grandes potências. Mas a ASEAN concordou em não ser um representante de qualquer poder, em trabalhar em prol da paz e da prosperidade", afirmou.

"Não façam do nosso navio, a ASEAN, uma arena de rivalidade que se destrói mutuamente, mas façam deste navio da ASEAN um campo para fomentar a cooperação, criar prosperidade, criar estabilidade, criar paz não só para a região, mas também para o mundo", disse.

Joko Widodo mostrou-se confiante de que todos os países membros da organização sentem "orgulho e amor pela família" ASEAN, apesar de reconhecer haver muitas perguntas públicas sobre se a organização está ou não dividida.

"As diferenças de opinião alimentam efetivamente a democracia, mostram que nós, enquanto família, temos uma posição de igualdade. Essa igualdade que eu vejo já é um item raro no mundo. Muitas injustiças e conflitos resultam da ausência de igualdade", afirmou.

"Mas na ASEAN é diferente. A igualdade é precisamente o principal valor que respeitamos e defendemos juntos no quadro da unidade e da união para que o grande navio da ASEAN possa continuar a avançar", considerou.

Entre os temas que mais têm dividido a organização contam-se a situação no Myanmar e as tensões no Mar do Sul da China.

Agora, considerou Widodo, importa aumentar as parcerias da organização, para assim a fortalecer e consolidar o seu papel global.

"Os oceanos do mundo são demasiado vastos para se navegar a sós. No nosso caminho, haverá outros navios, parceiros da ASEAN. Realizemos juntos uma cooperação igualitária que seja mutuamente benéfica para navegarmos juntos rumo ao crescimento", vincou.

Momentos antes, Joko Widodo e a mulher, Iriana, deram as boas vindas aos líderes regionais, incluindo o primeiro-ministro Xanana Gusmão, que representa Timor-Leste naquela que é a segunda participação do país numa cimeira da ASEAN.

Timor-Leste foi aceite, em princípio, como 11º membro da organização e tem que cumprir agora um conjunto de critérios de um roteiro definido pela ASEAN, que deverá hoje aprovar um primeiro relatório de avaliação sobre esse processo.

Na segunda-feira, Xanana Gusmão e Joko Widodo reuniram-se num encontro à margem da cimeira em que analisaram a cooperação entre os dois países e temas como a conclusão das negociações sobre a fronteira.

Joko Widodo reafirmou na reunião a vontade de criação de uma zona económica franca na fronteira, e os dois líderes concordaram que é necessário melhorar a cooperação económica bilateral.