Em comunicado, enviado à agência Lusa, Azeredo Lopes diz que “a acusação é eminentemente política, não tendo factos e provas a sustentá-la”, reiterando que nunca foi informado sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas do paiol de Tancos.

"Reitero que nunca fui informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, pelo que gostaria que ficasse claro que o então Ministro da Defesa não cometeu qualquer crime nem mentiu, tal como não o fez o cidadão José Alberto Azeredo Lopes", lê-se no comunicado.

O antigo responsável pela Defesa, que saiu do Governo em outubro de 2018, lamenta que “tenha sido ao longo dos últimos meses profusamente julgado na praça pública, numa situação de absoluta desigualdade, através de fugas de informação cirúrgicas, não obstante o processo estar em segredo de justiça, sem que o MP ou a PGR tenham, que se saiba, levantado qualquer inquérito, tornando banal e corriqueiro um facto que viola gravemente a lei e os direitos dos cidadãos”.

Para o ex-governante, o Ministério Público (MP) confunde a responsabilidade política com responsabilidade jurídica, dizendo que sempre assumiu a primeira e que refuta a segunda “de forma veemente e definitiva”.

Apesar de criticar a acusação de que é alvo, José Azeredo Lopes disse que já era expectável, desde que foi ouvido no MP como testemunha e poucos dias depois constituído arguido, situação que apelidou de desleal processual.

Azeredo Lopes critica as fugas de informação do inquérito, que foi da responsabilidade do Departamento Central de Investigação e Ação Penal com a coadjuvação da PJ, dizendo que foi “profusamente julgado na praça pública” e lamenta a falta de processos à violação do segredo de justiça.

“Lamento além disso que, de forma grosseira e óbvia, essas fugas de informação se tenham intensificado desde o primeiro dia da campanha eleitoral em curso, em claro atropelo e desrespeito às mais elementares regras da democracia e numa confusão lamentável de papéis de órgãos de soberania”, lê-se na nota.

O MP acusou hoje 23 pessoas, entre elas José Azeredo Lopes, no caso do furto e da recuperação das armas do paiol da base militar de Tancos.

Os arguidos são acusados de terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.

Nove dos 23 arguidos foram hoje acusados pelo Ministério Público de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.

O caso abalou as forças armadas, levou à demissão de Azeredo Lopes em 2018 e a polémica em torno do furto, tornado público pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, subiu de tom depois da, aparente, recuperação do material na região da Chamusca, no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação da Polícia Judiciária Militar (PJM).

O então chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, foi o primeiro a admitir publicamente que o material tenha sido furtado com “informação do interior”, porque os paióis tinham sido “escolhidos a dedo”.

Dois dias depois do furto, Rovisco Duarte anunciou a exoneração “temporária” dos comandantes das cinco unidades responsáveis pela segurança dos paióis, que era assegurada através de rondas móveis.

O argumento usado foi a necessidade de não interferirem com a investigação que decorria, uma explicação que não foi compreendida no meio militar, registando-se baixas de peso na estrutura superior do Exército.

O comandante das forças terrestres, general António Menezes, e o comandante do pessoal, general Antunes Calçada, demitiram-se em discordância com a decisão de Rovisco Duarte, que, 15 dias depois, renomeou os comandantes exonerados, para as mesmas funções.

(Notícia atualizada às 15h08)