A explicação, repetida por duas vezes, foi dada por João Manuel Pires, que comandou o regimento no ano anterior ao furto de Tancos, durante a audição, de quase três horas, na comissão de inquérito ao furto de Tancos, na Assembleia da República, em Lisboa.

“Houve uma falha, no caso, do Regimento de Engenharia n.º 1, porque a equipa que estava destacada para fazer a segurança não cumpriu a sua função. É uma falha”, afirmou o oficial, em resposta ao deputado do Bloco de Esquerda João Vasconcelos, que o questionou sobre se o Estado falhara na sua missão de segurança das instalações.

O Regimento de Engenharia n.º 1 foi uma das unidades a quem foi atribuída a missão, rotativa, de proteger os paióis nacionais de Tancos e que tinha a responsabilidade pela segurança das instalações, de onde foi furtado material de guerra, em junho de 2017.

Mais à frente, na resposta ao deputado Jorge Machado, do PCP, voltou a mencionar a tese da falha, perante a informação, noticiada depois do assalto, de que não houve rondas durante 20 horas durante a noite do furto.

“Quando durante 20 horas não se faz uma ronda, não posso tirar outra conclusão a não ser que há uma falha nossa, neste caso, da secção. Embora ninguém nos garanta que se se fizesse a ronda não havia roubo”, disse.

De resto, o coronel João Manuel Pires corroborou a tese, já conhecida, da degradação das instalações, como as redes das vedações que estavam “com sintomas de ferrugem” e “com buracos” que foram reparados por militares.

As principais anomalias detetadas durante o tempo que ficou responsável pela segurança foram “a deterioração” das duas redes de proteção e facto de o sistema de videovigilância não funcionar desde 2007, admitiu.

Foi ainda feita uma “desmatação” junto às duas redes de vedação, dado que, em 2014, não se conseguia ver de um lado para o outro da área do paiol, pelo que explicou este responsável.

Depois dessas operações, “passou a haver alguma visibilidade”, mas as anomalias “mais graves” mantiveram-se, dado que, para as resolver, era necessário “outro tipo de intervenção” para que as unidades “não tinham capacidade”.

As anomalias detetadas foram comunicadas à Brigada de Reação Rápida, responsável pela coordenação da segurança dos paióis e paiolins, que depois os enviou para “consideração superior”, ou seja, ao Comando de Forças Terrestres, acrescentou.

Durante a audição, João Manuel Pires disse que não pôs em causa fazer a segurança com o número de efetivos determinado – oito no total – justificando com o facto de “vestir a camisola” e tentar “cumprir a missão o melhor possível”.

Ao contrário de outros inquiridos, o coronel afirmou, por várias vezes, não se lembrar do número de rondas feitas durante as 24 horas, ressalvando que o regimento cumpriu o que estava previsto pelas ordens superior.

Apesar de dizer que ter mais gente e meios melhoraria as condições de vigilância, o ex-comandante do RE 1 sublinhou que o “maior elemento dissuasor perante um potencial assaltante é sempre o recurso humano”.

A segurança dos paióis foi atribuída a quatro unidades militares, entre elas ao Regimento de Engenharia, que cumpriam a missão rotativamente.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.