No segundo dia de interrogatório em julgamento, Paulino disse ter tido vários encontros com os arguidos Bruno Ataíde, da GNR de Loulé (de quem é amigo de infância) e do seu chefe, o sargento Lima Santos, a quem contou que estava envolvido no assalto aos paióis da base militar de Tancos, ocorrido em junho de 2017.
"Contei-lhes que sabia onde estavam as armas, que estive envolvido no assalto, mas nunca com pormenores" referiu João Paulino, dizendo que se sentiu pressionado quando confessou que sabia onde estava o material.
Os dois militares da GNR do Algarve sentiram que Paulino não estava muito confiante e que temia ser preso e, numa tentativa de criarem uma relação de confiança, disseram-lhe que o assunto "estava a ser tratado ao mais alto nível e que o ministro da Defesa o estava a acompanhar".
João Paulino disse que os militares, numa tentativa de lhe transmitirem confiança e convencê-lo que a entrega seria segura, lhe pediram para falar com outras pessoas, nomeadamente da Polícia Judiciária Militar (PJM), algo que nunca aconteceu, e adiantaram que o caso "estava a ser tratado ao mais alto nível, inclusivamente o ministro da Defesa [Azeredo Lopes] estava a acompanhá-lo".
"Disseram-me que o ministro da Defesa tinha conhecimento e, para eu ver que o assunto era sério, pediram-me para ir às instalações da PJM em Lisboa, mas eu nunca fui", frisou.
Paulino insiste que estava com medo de ser preso e que não divulgou pormenores sobre o furto e o material, tendo imposto como condição não falar com mais ninguém das forças de segurança.
A história da entrega do material começa com um telefonema do amigo Bruno Ataíde a perguntar-lhe sobre Paulo Lemos (Fechaduras), o que o levou a dizer ao militar o que sabia sobre Lemos e que sabia onde estava o material furtado e que podia ajudar.
Posteriormente, Bruno Ataíde pediu a Paulino para falar com o seu superior, sargento Lima Santos [de Loulé] o que aconteceu em várias ocasiões em Pombal.
Sobre a entrega do material na Chamusca, Paulino referiu que não avisou previamente do local e que o objetivo foi esconder as armas roubadas o mais longe da sua propriedade, acreditando sempre que não seria implicado no caso.
O processo conta com 23 arguidos, entre eles o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM) Luís Vieira, o ex-porta-voz da instituição militar Vasco Brazão e vários elementos da GNR do Algarve.
Nove arguidos vão responder por associação criminosa, tráfico e mediação de armas e terrorismo, e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes e dois elementos da PJM, da encenação/encobrimento que esteve na base da recuperação do material, na região da Chamusca, Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.
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