Num dia frio na capital, que nem o sol ajudou a aquecer, o Livre escolheu o jardim Constantino para uma conversa sobre saúde que juntou o cabeça-de-lista por Lisboa do partido, Rui Tavares, a número dois, Isabel Mendes Lopes, o antigo diretor-geral da Saúde e médico, Francisco George, e outros profissionais da área, como a enfermeira Maria Augusta Sousa.
“Estamos num momento em que por causa da pandemia os olhares se viram para os serviços nacionais de saúde e identificam problemas que não são do tempo da pandemia e não são só consequência da pandemia”, disse Rui Tavares, no pontapé de saída da conversa, alertando para um “histórico de suborçamentação” do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para o dirigente, “orçamentar devidamente” é a solução o que “não significa só gastar mais”, mas “também gastar melhor”, apontando, por exemplo, que políticas de combate à evasão fiscal podem ser úteis para investir em melhores serviços, como os da saúde.
No programa do Livre, continuou, o partido guia-se por “dois princípios globais”: “a saúde em todas as políticas, o que permite encarar as questões de saúde de uma forma mais preventiva, evitar problemas antes de eles saírem mais caros”, e uma política “baseada na ciência”.
No âmbito da “saúde em todas as políticas” Tavares deu como exemplo uma das causas do partido, o combate ao frio nas casas em Portugal, sustentando que ao resolver esta questão, além de ajudar o ambiente, também se ajuda o SNS, evitando que as pessoas fiquem doentes em picos de frio no inverno.
Outro exemplo é a defesa de uma “política de transportes” com “novos modelos de transportes públicos”, o que pode significar menos carros nas cidades e consequentemente “menos doenças do foro respiratório”.
Francisco George, antigo diretor-geral da Saúde, começou por oferecer a Rui Tavares o livro “Prevenir doenças e conservar a saúde”, da sua autoria, realçando “uma coincidência de pontos de vista” entre o seu pensamento e o programa do Livre para as legislativas de 30 de janeiro na área da saúde.
“Reconheço a importância do reforço de tudo o que é o SNS, mas muito em especial, sublinho, das infraestruturas de saúde pública que têm de ser robustas para dar resposta a problemas que possam ameaçar a saúde dos portugueses, como aconteceu em março de 2020. Mas nós não sabemos o que irá acontecer, se vamos entrar numa fase endémica ou se poderá surgir uma nova variante que exija mais recursos a serem aplicados no SNS e muito em especial na saúde pública”, frisou.
Para Francisco George a saúde pública do país “tem uma história de sucesso, mas nos últimos anos esse sucesso deu lugar a um enfraquecimento injustificável, intolerável que tem que ser agora alterado no sentido de mais respostas com mais eficácia, com mais meios”.
“Estamos ainda numa fase de reforçar a resposta em saúde pública, mais meios, mais articulação, uma comunicação eficaz sobre os problemas da saúde pública”, vincou.
Francisco George recusou comentar a gestão da pandemia pelo Governo e as autoridades de saúde, salientando a importância de “esperar pelo fim, olhar para trás, com várias lupas”, uma “lupa política”, outra “sobre os aspetos científicos que deram ou não origem a decisões tomadas bem ou mal”, e uma lupa “no plano da ética e da responsabilidade”.
Para tal, advogou, “uma comissão, um comité, um grupo, parlamentar ou não, independente, com especialistas, terá que fazer essa avaliação sobre o comportamento dos portugueses e dos seus governantes durante os anos da pandemia”, mas não para já.
A número dois por Lisboa do Livre, Isabel Mendes Lopes, reforçou a importância da “prevenção e da saúde pública construída na promoção da saúde e do bem-estar, e não de correr atrás do prejuízo”.
A enfermeira-chefe e ex-bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Maria Augusta Sousa, apontou que os problemas na área não se vão resolver de um dia para o outro e, portanto, “tem de haver perspetiva de médio e longo prazo”, contributo que o Livre pode dar a “uma esquerda plural”.
Francisco George interrompeu para vincar: “Uma esquerda plural, no quadro de uma maioria plural”, disse.
“É a única maneira que há de poder garantir que estas coisas podem avançar, não nos iludamos, porque do outro lado não é para avançar isto, é para estagnar isto”, apontou ainda a enfermeira.
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