Depois de uma manhã dedicada à cultura e ao teatro, em Sintra, o dirigente e fundador do Livre Rui Tavares rumou ao cais do Escaroupim, em Salvaterra de Magos, distrito de Santarém, ponto de partida para uma travessia no Tejo.
Ao leme, Tavares encontrou um homónimo, Rui Domingos, de 57 anos, dono da empresa “Rio-A-Dentro”, que desde 2010 trocou o trabalho em publicidade na capital do país pela paz da sua terra natal e o negócio dos passeios de barco.
Já a bordo de um barco, no maior rio da Península Ibérica, que nasce na serra de Albarracín, em Espanha, desaguando no Oceano Atlântico, na região de Lisboa e se estende por mais de mil quilómetros, o historiador considerou que “a evolução do Livre lembra um bocadinho as marés”.
“Se a gente apanha a maré alta e sobe meio ponto, elegemos um grupo parlamentar. Se apanhamos a maré baixa e descemos meio ponto, repete-se 2015”, disse, numa alusão às legislativas desse ano, em que o partido esteve perto, mas não conseguiu eleger qualquer deputado.
À data, continuou, o eleitorado, convencido pelas sondagens de que o partido iria eleger, decidiu ir “resolver outro assunto, que na altura era Passos Coelho ou António Costa”, algo que segundo o dirigente se pode voltar a repetir no próximo dia 30.
Tavares continuou a analogia, explicando que outros partidos também sobem ou descem meio ponto, mas que para o Livre “subir ou descer meio ponto é bastante mais relevante”.
“Essa diferença da maré faz uma grande diferença”, sublinhou.
No passeio não se viram as famosas garças, que podem chegar aos milhares em certas alturas do ano, mas por entre os vários mouchões (pequenas ilhas) do Tejo avistaram-se cavalos selvagens que se exibiram à passagem da embarcação, apetrechada de bandeiras verdes e vermelhas, as cores do partido.
Momentos antes de embarcar, aos jornalistas, Tavares apontou para as potencialidades do território do estuário do Tejo, nomeadamente na “educação ambiental, na cultura” ou até na economia, lamentando algum “desordenamento do território” ou “falta de estruturas intermunicipais para cuidar do património natural”.
“É uma área metropolitana riquíssima, que precisamente por não ter, por exemplo, uma regionalização democrática como nós defendemos que deveria ter, não está bem integrada. E os exemplos no estuário do Tejo acumulam-se em relação a esse desaproveitar do potencial que nós temos”, advogou.
O dirigente do Livre alertou ainda para um “Tejo que em certa medida está doente”, com “caudais mais fracos”, falta de negociação com Espanha no quadro da União Europeia para o “bom aproveitamento de recursos hídricos”, advertindo também para riscos nucleares na fronteira devido à central de Almaraz.
Entre os desejos de uma viragem à esquerda do país no próximo dia 30, o historiador ainda teve tempo de puxar pela sua formação académica revelando que “a corte vinha de Lisboa para vir à opera em Salvaterra de Magos e vinha de barco”, mas também a história da aldeia piscatória do Escaroupim, formada em meados dos anos 30 por pescadores oriundos da Praia da Vieira, na Marinha Grande, que vinham ao Tejo sazonalmente fazer campanhas de pesca de inverno, “uma das migrações mais difíceis do país”.
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