No regresso ao palco, o Teatro do Bairro propõe uma reposição – “O mundo é redondo”, de Gertrude Stein – uma estreia – “Rei João” - e uma surpresa na programação de verão, anunciou hoje o teatro.
“Mantendo a tradição, o Teatro do Bairro sai do seu espaço natural para levar à cena entre 29 de julho e 15 de agosto a sua mais recente criação no magnífico espaço ao ar livre das Ruínas do Museu do Carmo”: “Rei João”, que “nunca foi, ao que se sabe, encenado em Portugal”, refere o teatro em comunicado.
A partir da versão para palco de Luísa Costa Gomes (que originalmente traduziu em verso branco o texto do dramaturgo), António Pires encenou e dirige o elenco constituído pelos atores Alexandra Sargento, Carolina Campanela, Dinarte Branco, Duarte Guimarães, Francisco Tavares, Gonçalo Norton, João Barbosa, Luís Lima Barreto, Maria João Freitas, Mário Sousa, Rafael Fonseca e Sofia Marques.
“Vida e morte do Rei João”, no título original shakespeariano, é uma peça histórica, vagamente baseada em factos, que trata do processo de legitimação de João Sem Terra, e propõe uma paródia dos corredores e bastidores do poder, regidos pelo único valor do proveito próprio.
É a “peça obscura: não-lida, não-representada, mal-amada de Shakespeare que ressoa agudamente no nosso tempo do ‘marquetingue’ de influência, do ‘marquetingue’ político, do ‘marquetingue’ pessoal em que tudo é ‘Commodity’, comodificação de tudo em ‘recurso’ ou ‘produto’ com valor de mercado”, explica o teatro em comunicado.
Numa análise que Luísa Costa Gomes fez à peça de Shakespeare, e a que deu o título “O reino dos oportunistas”, escreve que “o que este texto propõe de único em Shakespeare é uma atmosfera sem qualquer grandeza”.
“Um ambiente de bastidores fedorentos das fachadas da História. Não há heróis, não há grandes tiradas sobre a vida (‘a vida é um tédio’, diz o Delfim), nem grandes tiradas sobre o Ser. Não há um personagem que se aproveite, uma figura forte e sadia, tudo é governado pelo comezinho Interesse Próprio. É um tema de comédia que rebaixa quem o toca”, escreve a autora.
A matriz da peça é a figura da escada: que se sobe e que se desce, e quem está no topo, João, só pode descer no processo de legitimação.
“O seu percurso é uma queda em que vai batendo os costados em cada novo degrau, declinando a cada novo desafio, incapaz de se legitimar, querendo as regalias do poder sem ter de lhes pagar o preço ou sofrer as consequências. No Rei João vemos o percurso de um homem minado pelo poder”, acrescenta Luísa Costa Gomes.
Outra novidade é o festival Descon’FIMFA LX20, uma edição especial de verão do Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas (FIMFA) que se apresentará a “desconfinar”, junto dos seus espectadores, no palco do Teatro do Bairro, entre 05 de agosto e 05 de setembro.
“Num ano diferente, um outro FIMFA. Em maio seriam os 20 anos do FIMFA, que a pandemia impediu de celebrar”, referem os organizadores.
Luís Vieira e Rute Ribeiro, diretores artísticos de A Tarumba - Teatro de Marionetas, oferecem uma “edição única e irrepetível” com criações de companhias portuguesas e estrangeiras, em que os objetos serão os protagonistas.
O Teatro do Bairro vai ainda repor “O mundo é redondo”, espetáculo encenado por António Pires, que foi distinguido pela Sociedade Portuguesa de Autores em 2019 como Melhor Espetáculo de Teatro.
Regressa agora para cinco apresentações no Festival de Almada, com a participação das atrizes Carolina Campanela, Carolina Serrão, Sandra Santos e Vera Moura nos dias 04, 05, 10, 11 e 12, no Auditório Municipal Romeu Correia.
A história original (“The World Is Round”) é um conto escrito por Gertrude Stein em 1939 que, embora tenha sido escrito para uma criança, “prima pela universalidade, apela ao público para o que nele possa existir de mais puro levando-o a relacionar com a memória da própria inocência”, afirma o Teatro do Bairro, sublinhando que a adaptação para palco de um dos textos mais narrativos de Stein, “permitiu a António Pires a construção de um espetáculo-paisagem”.
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