“Mais um ano sem aumento é perda de rendimento”, “basta de congelamento, queremos o nosso aumento”, “é mesmo necessário o aumento do salário”, “contenção salarial só interessa o capital” e “continuar a lutar é repor e conquistar” foram alguns dos gritos de protesto que trabalhadores e sindicalistas da administração local evocaram pelas ruas de Lisboa durante o cordão humano que desceu desde a zona do Rossio até ao Ministério das Finanças, na zona do Terreiro do Paço.

Presente no protesto, organizado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL) e pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), o secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical (CGTP-IN) criticou a postura do Governo em recusar o aumento dos salários dos trabalhadores da administração local.

“Hoje em dia, todos os setores de atividade, sem exceção, estão a aumentar o seu volume de negócios, a aumentar os lucros, e também o Estado aumentou as receitas, por que razão é que não correspondem a estas reivindicações, que têm a ver com aumento geral dos salários, mas também com o aumento do salário mínimo para 650 euros?”, questionou Arménio Carlos.

Em declarações à Lusa, o sindicalista afirmou que “não há nenhuma justificação – como já não havia anteriormente, mas agora ainda muito menos –” para o Estado não dar resposta ao princípio constitucional de atualização anual dos salários.

“Não é admissível que este Governo, […] que tanto criticou o anterior Governo por não atualizar o salário dos trabalhadores e não ter em consideração a melhoria das condições de vida e trabalho dos trabalhadores, quer do setor privado, quer do setor público, agora que esteja no Governo siga quase rigorosamente a mesma postura que outros que o antecederam”, apontou o secretário-geral da CGTP-IN, acusando o atual executivo de “manipular ou tentar manipular a opinião pública com a ideia de que apresentou um aumento médio de 3,5 ou 3,6% para o próximo ano” para os trabalhadores da administração pública.

De acordo com Arménio Carlos, o Governo está a confundir o que são carreiras com o que é a atualização anual dos salários para todos os trabalhadores, já que nas carreiras profissionais só alguns têm acesso à subida, porque “a esmagadora maioria continua a ser afastada da progressão”.

Como trabalhadora na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Benvinda Borges deslocou-se até Lisboa, com oito colegas das diversas ilhas da Região Autónoma dos Açores, para participar no cordão humano, apelando a um aumento dos salários.

“Temos os nossos salários congelados desde 2009, o nosso poder de compra há muito que já foi ultrapassado”, disse à Lusa a açoriana, acrescentando que “com a questão da insularidade ainda se acrescem alguns custos de vida, nomeadamente nos transportes”.

Erguendo uma bandeira do STAL no protesto, João Amaral, que trabalha no setor empresarial do Estado há 13 anos, defendeu “uma progressão na carreira, uma atualização dos salários e aumentos também nos salários”.

“São dez anos a perder poder de compra, são dez anos sem progressões nas carreiras, e com o que o Governo nos propõe nunca chegaremos ao topo da carreira”, lamentou o trabalhador, assegurando que a luta continua, independentemente de serem necessários “meses, um ano ou dois anos”.

Para o secretário-geral da CGTP-IN, as reivindicações dos trabalhadores da administração local podem ser respondidas pelo Governo, “se houver opções, se houver vontade política”, através da disponibilização de verbas para atualização dos salários e para investimento nos “serviços públicos, que tão causticados têm sido pelas políticas de cativações do inquilino do Ministério das Finanças”.

“Não nos venham dizer que o aumento dos salários tem um peso significativo nas contas públicas, porque há outras vertentes, nomeadamente daquilo que tem a ver com a despesa pública, essas sim são supérfluas e essas sim têm um peso significativo”, declarou Arménio Carlos, apontando como exemplos os 1.600 milhões de euros que o Estado gasta com as parcerias público-privadas, os 300 ou 400 milhões de euros que gasta nos contratos ‘swap’ e as centenas de milhões que gasta com serviços que podiam ser prestados pelos trabalhadores da administração pública e são entregues à iniciativa privada.

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