Alinhados com a ideia de que este fecho, anunciado em dezembro de 2020, é um “tremendo negócio” sob a capa da transição energética, os atuais e antigos trabalhadores foram unânimes em referir, num debate realizado hoje em Matosinhos, no distrito do Porto, que quem vai beneficiar é o país vizinho.

“O mais provável é a região Norte passar a ser abastecida a partir de Espanha”, disse Hélder Guerreiro, engenheiro químico e membro da Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, perante um auditório com cerca de 70 pessoas.

Além do abastecimento, Hélder Guerreiro falou ainda numa “série de produtos” que só o complexo petroquímico de Matosinhos produz, o que vai obrigar a importá-los.

Logo, acrescentou, Portugal vai ver a sua dependência externa aumentar.

Em dezembro, a empresa anunciou a intenção de concentrar as operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines, descontinuando em 2021 a refinação em Matosinhos.

A decisão da Galp de descontinuar a refinação em Matosinhos põe em causa 401 postos de trabalho diretos e 1.000 indiretos.

Na opinião de José Meireles, ex-responsável pelo Departamento de Segurança, o Governo de António Costa está a entregar de “mão beijada e ao desbarato” uma mais-valia aos concorrentes espanhóis.

A título de exemplo, o antigo funcionário falou no asfalto, produzido apenas na refinaria de Matosinhos, que vai deixar uma série de empresas sem este produto.

“Quer dizer, vão ter asfalto, mas não ao mesmo preço da refinaria porque vão ter de ir busca-lo a Espanha”, vincou.

Encerrar a refinaria sob a “capa da transição energética” é uma mentira porque ela está classificada entre as melhores da Europa, afirmou José Meireles.

É auditada e inspecionada anualmente por mais do que uma entidade, revelou, acrescentando que há mais de dez anos que deixou de queimar combustível líquido.

Já para Rui Pedro Ferreira, dirigente do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (SICOP), tudo está a acontecer com “cobertura política”, acusando o Governo, na pessoa do ministro do Ambiente e do primeiro-ministro.

“Esta decisão vai ter o seu custo no futuro e os responsáveis são os que estão, atualmente, a governar”, salientou.

Igualmente crítico, Telmo Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente (SITE) do Norte e da comissão de trabalhadores, estendeu as responsabilidades ao Presidente da República.

Na sua opinião, se há prova de que a refinaria é importante para Portugal é o facto de esta nunca ter parado de trabalhar desde que a pandemia de covid-19.

“No momento mais adverso do país nunca parou, esteve sempre a trabalhar, isso demonstra bem a sua importância”, comentou.

A fechar será um “autêntico desastre” para Matosinhos, para a região Norte e para o país, reforçou o vereador da Proteção Civil de Matosinhos, José Pedro Rodrigues.

Classificando a decisão como uma “vergonha”, o vereador comunista lembrou os muitos negócios que vão ser afetados, desde o comércio à restauração, assim como as famílias que vão “sofrer na pele este desastre”.

“Muitos terão, certamente, de emigrar”, reforçou.

O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.

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